Número de casos confirmados na Europa tem aumentado e são muitas as medidas de prevenção em Portugal. DGS alerta as empresas para tomarem medidas de prevenção. Altice já tem equipamentos para instalar em casa de trabalhadores que fiquem em quarentena.
O novo coronavírus tem afetado cada vez mais o continente europeu e Portugal já registou, no total, mais de 60 casos suspeitos, cujos resultados das análises conhecidos até ontem deram todos negativo. O primeiro-ministro António Costa já admitiu que «mais tarde ou mais cedo» haverá casos confirmados de Covid-19 em Portugal, mas para já o surto tem passado ao lado. Graça Freitas, diretora-geral de Saúde, tem alertado para as medidas de prevenção que têm de ser tomadas, nomeadamente pelas empresas portuguesas. «As empresas têm de estar preparadas para os seus trabalhadores não irem trabalhar, devido a doença, suspensão de transportes públicos ou encerramento de escolas», explicou a Direção-Geral de Saúde (DGS), que recomenda ainda que se evitem reuniões de trabalho em sala e que haja «áreas de isolamento com ventilação natural, ou sistema de ventilação mecânica, e revestimentos lisos e laváveis, sem tapetes, alcatifas ou cortinados», bem como a lavagem frequente das mãos. No entanto, a utilização de máscaras não é aconselhado. «O uso destes dispositivos só é recomendado para doentes e profissionais de saúde que têm contacto próximo com os possíveis infetados. À população em geral não é aconselhado. As medidas devem ser proporcionais ao risco», disse Graça Freitas.
Estas medidas de precaução são para quem se encontra em Portugal, mas já há portugueses a ter de lidar com o coronavírus fora do país. Depois de Adriano Maranhão, a bordo do navio Diamond Princess atracado em Yokohama, no Japão, ter sido transportado para um hospital de referência nipónico, um segundo cidadão de nacionalidade portuguesa foi hospitalizado naquele país «por indícios relacionados» com o surto, mas optou por não dar a cara, segundo avançou o_Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Entretanto, foi criado pela DGS um site para esclarecer dúvidas que possam existir sobre o surto, através do qual os portugueses podem colocar questões. Graça Freitas já sublinhou, porém, algumas ações de prevenção que passam por poupar nos afetos, uma vez que o risco é «moderado a elevado». «Somos pessoas que beijam imenso, abraçam imenso. Nestas alturas devemos ter contenção. Não é preciso beijarmos todos os dias, a todas as horas. Não é preciso este afeto tão português», explicou, adiantando que ontem à tarde ainda existiam sete ou oito casos suspeitos de coronavírus em Portugal que se encontram em análise. «É impossível ignorar que estamos em situação de epidemia mundial e podemos entrar numa situação de epidemia nacional. Devemos ter planos nas empresas, escolas e nos domicílios», disse. Já o Governo aconselhou o cancelamento de viagens de finalistas nas férias da Páscoa. António Costa disse mesmo que o melhor será evitar «deslocações» ao estrangeiro de estudantes neste período, nomeadamente onde haja pessoas infetadas pelo novo coronavírus.
O SOL sabe que, no âmbito do programa de Erasmus, o fecho de dos estabelecimentos de ensino ou cancelamento de mobilidades serão efetuados apenas se houver motivos de «força maior». «É importante mencionar que só serão consideradas como tal as áreas declaradas pelas autoridades competentes a nível nacional, regional e local, uma vez que são estas que definem, em cada caso, os seus limites geográficos. No presente não existe uma proibição geral de viagens na Europa, não existindo por isso motivo para o cancelamento das mobilidades ao abrigo do Programa Erasmus+. Contudo, a decisão de não partir ou regressar antecipadamente é pessoal, pelo que quaisquer custos adicionais, ao Programa, que daí advenham serão analisados, caso a caso», sublinhou ao SOL a Agência Nacional de Erasmus, que falou ainda do financiamento. «O participante terá o direito de receber o montante de subvenção correspondente, pelo menos, à duração efetiva do período de mobilidade. O financiamento remanescente terá de ser devolvido, exceto se for acordado de forma diferente com o beneficiário», pode ler-se.
E no que toca a empresas, Altice Cuidados de Saúde tem estado em contacto permanente com a DGS, com o objetivo de tomar todas as medidas de precaução necessárias. A Altice ativou inclusivamente o plano de contingência e prevenção. «Em meados de fevereiro, todos os diretores foram informados e envolvidos nas medidas inerentes ao plano de prevenção e contingência ativado pela Comissão Executiva. Temos estado desde o primeiro momento em comunicação com a DGS, acompanhando as orientações e recomendações a implementar, bem como a informação emanada da OMS», foi explicado pelo presidente da empresa numa comunicação interna. Além disso, estão já a ser preparados equipamentos para instalar em casa dos colaboradores que forem colocados em quarentena para executarem as suas funções através de teletrabalho.
Itália minada, Espanha ameaçada
Dois países muito próximos de Portugal já têm vários casos de pessoas contaminadas. E no caso italiano até existe o registo de várias mortes. O vírus, concentrado na sua maioria nas regiões de Lombardia e Véneto, já fez 17 mortos no país e há mais de 650 casos confirmados. O surto tem colocado Itália numa situação extrema de alerta e o Governo transalpino já precisou de alterar a estratégia para lidar com o coronavís e combater o alarmismo, protegendo a economia. Foi divulgada uma mensagem de tranquilidade pelo Governo, mas o que é certo é que o número de mortos tem aumentado. De acordo com Graça Freitas, o aumento do número de casos suspeitos em Portugal é «o reflexo da situação em Itália, que passou a ser um foco muito importante da doença».
Em Espanha, a situação apresenta contornos menos dramáticos, apesar da confirmação de 32 casos de coronavírus no país. Esta semana, centenas de turistas e funcionários de um hotel das ilhas Canárias foram colocados em quarentena, depois de se ter comprovado que um grupo de italianos estava contaminado. «Não se está a planear fazer novas recomendações, iremos acompanhar de perto e avaliar as opções de ação caso o cenário mude; se for necessário mudar em duas horas, isso será feito, dois dias ou em duas semanas, caso contrário, não será feito», explicou Fernando Simón, diretor do Centro de Coordenação de Alertas e Emergências de Saúde em Espanha. Há jogos de futebol que vão ser realizados à porta fechada e a Organização Mundial de Saúde (OMS) já fala numa ameaça internacional «muito elevada». «Aumentámos a nossa avaliação do risco de propagação e do impacto do Covid-19 para um nível muito alto em todo o mundo», revelou o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus.
Primeiro-ministro eslovaco internado
Peter Pellegrini, primeiro-ministro da Eslováquia, foi hospitalizado na semana passada, depois de ter sentido problemas respiratórios e febre alta. A infeção por coronavírus não foi mencionada, mas, em comunicado, é referido que os sintomas são muito semelhantes. «O primeiro-ministro Peter Pellegrini foi hospitalizado devido a uma infeção aguda do trato respiratório superior acompanhada de febre alta», pode ler-se, tendo o primeiro-ministro cancelado toda a sua agenda para os últimos dias. Peter Pelegrini esteve em Bruxelas na quinta e sexta-feira, onde participou nas negociações para o orçamento comunitário, ao lado dos homólogos europeus, incluindo António Costa. «Devido à sua condição, decidiu cancelar temporariamente toda a sua agenda», lê-se. O primeiro-ministro eslovaco, recorde-se, era esperado num debate televisivo, uma vez que faltam poucos dias para a realização das eleições legislativas, onde deverá sair derrotado.
Europa sob alerta máximo
A nível mundial, o coronavírus já provocou mais de duas mil mortes e infetou mais de 83 mil pessoas. No continente europeu, os números têm aumentado exponencialmente e são muitos os países que têm casos recentemente confirmados: Itália, Alemanha, França, Espanha, Reino Unido, Suíça, Suécia, Noruega, Áustria, Croácia, Grécia, Finlândia, Bélgica, Dinamarca, Roménia e Estónia.
Na Alemanha, por exemplo, existem 35 pessoas que se encontram isoladas por terem estado em contacto com um médico infetado e, na Suíça, o salão automóvel internacional de Genebra foi cancelado devido ao surto. O anúncio foi feito pela organização do evento, que tinha início agendado para esta semana. A União Europeia já agendou para o dia 6 de março uma reunião extraordinária de ministros da Saúde e a Comissão Europeia, recorde-se, já solicitou aos Estados-membros que avaliassem os impactos económicos do coronavírus para se perceber as consequências que a epidemia está a ter na Europa.
Quanto aos voos, a Easyjet vai cancelar viagens de e para Itália por causa dos novos casos confirmados no país, tendo a companhia aérea registado um abrandamento na procura e na taxa de ocupação dos voos para o norte de Itália, onde os casos confirmados têm vindo a aumentar. «Estamos também a registar um abrandamento na procura nos restantes mercados europeus onde operamos. Como resultado, iremos cancelar alguns voos, principalmente os que entram e saem de Itália, enquanto continuaremos a monitorizar a situação», confessou a Easyjet em comunicado.