Vacina do Covid-19 ainda vai tardar

A OMS anuncia que o surto ‘está a aumentar’, e agrava o cenário com a chegada do Covid-19 à Nigéria. Caso do Irão envolto em dúvidas numa altura em que oito portugueses tentam sair do país.

O surto do novo coronavírus «está a aumentar». A Organização Mundial de Saúde (OMS) subiu o nível de alerta para «muito elevado a nível global» e reiterou que nem as medidas já tomadas pelas autoridades – nomeadamente pelo Governo chinês – vão conseguir travar a propagação da doença a quase todos os países do mundo, se não mesmo a todos. À hora do fecho desta edição, o número total de infetados superava os 83 mil. Oficialmente, 2867 pessoas morreram. Das pessoas infetadas, mais de 36 mil já recuperaram.

 O pessimismo que acompanha a declaração foi justificado, nas últimas horas, pelo anúncio de novos casos em países como México, Nova Zelândia e Nigéria. Notícias ainda por confirmar dão ainda conta de uma situação descontrolada no Irão.

O caso da Nigéria, o primeiro na África subsaariana, motiva grandes preocupações, sobretudo por se tratar do país mais populoso do continente, com mais de 190 milhões de habitantes. O indivíduo infetado, de nacionalidade italiana, havia regressado recentemente de Milão, em Itália, e encontra-se hospitalizado na região de Lagos. Na sequência deste anúncio, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus,  realçou que «nenhum país deve assumir que não haverá casos». «Isso seria um erro fatal», disse , em conferência de imprensa realizada em Genebra, na Suíça.

A OMS alertou também para o caso do Irão – oficialmente o quarto país com mais infetados registados (388 ao fecho desta edição) e o que soma maior número de mortes fora da China (34) –, com Ghebreyesus a admitir, face às informações escassas e contraditórias, que a situação pode, eventualmente, ser muito pior. A BBC adiantou mesmo nas últimas horas que há o registo de, pelo menos, 210 mortos no Irão, com grande parte das vítimas a residirem nas localidades de Teerão e em Qom.

Um relato que carece de confirmação, e que pode dificultar ainda mais o regresso a casa dos oito cidadãos portugueses que se mantêm retidos no país. O grupo de turistas deixou de conseguir viajar depois de praticamente todas as companhias aéreas terem cancelado os seus voos de e para o Irão. Os portugueses encontram-se na cidade de Isfahan, no centro do país, e, salvo alterações de última hora, têm bilhete num voo para Kuala Lumpur, capital da Malásia, agendado para domingo, dia 1 de março. O Governo português confirmou estar a acompanhar a situação através da embaixada em Teerão e do Gabinete de Emergência Consular.

Entretanto, os dois portugueses infetados com o novo coronavírus continuam internados em hospitais no Japão. Adriano Maranhão, o canalizador do cruzeiro Diamond Princess, deverá ter alta em breve, e poderá regressar a Portugal. O Ministério dos Negócios Estrangeiros confirmou um segundo português infetado que «não quer ser identificado» e pediu que a «sua situação seja mantida privada».

 

Grandes eventos em risco

Os Jogos Olímpicos de 2020 estão agendados para o Japão, o quinto país com mais pessoas infetadas (228). O Comité Olímpico Internacional (COI)_garantiu que os preparativos para o maior evento desportivo do mundo decorrem como planeado, mas decidiu alterar «temporariamente a sua política de viagens para funcionários e consultores». O_COI divulgou que «apenas viagens essenciais serão permitidas» e devem ser procuradas alternativas. A possibilidade de haver um cancelamento das Olimpíadas não foi ainda colocada em cima da mesa, mas a OMS_confirmou que mantém contactos permanentes com os organizadores da prova, dando conta da evolução do surto. «No meu entender, nenhuma decisão foi tomada ou será tomada num futuro próximo sobre o futuro dos Jogos Olímpicos», afirmou Mike Ryan, presidente do programa de emergências de saúde da OMS.

 

Vacina ainda vai tardar

A corrida em busca de uma vacina para o Covid-19 prossegue em uma dúzia de laboratórios, em países como o Reino Unido, Estados Unidos ou Austrália, e numa fase em que as indústrias farmacêuticas da China e da Índia já se deparam com dificuldades de funcionamento devido ao surto. Sabe-se que as investigações mais adiantadas iniciaram testes clínicos em animais, mas tal não é ainda suficiente para que se avance com uma previsão de quando será possível fazer chegar ao mercado um medicamento eficiente e seguro. A emergência global tem permitido ultrapassar inúmeros obstáculos, de que é exemplo o tempo recorde que a China precisou para tornar público o código genético do Covid-19 para investigação. Este vírus apenas foi identificado em janeiro e poucas horas depois já se trabalhava no desenvolvimento de uma vacina.

Segundo os analistas, uma primeira vacina poderá vir a ser utilizada em testes com humanos no início da primavera (a partir do final de março), numa escala aproximada de 50 indivíduos. Apenas depois de serem comprovados resultados positivos se poderá passar a uma fase onde as vacinas serão administradas a um grupo alargado de pessoas.

Apesar da velocidade inédita do processo, os analistas são unânimes em considerar como muito improvável que uma versão da vacina para o Covid-19 esteja concluída antes do início de 2021. Caso se confirme este prazo, é provável que o medicamento não chegue a tempo para ajudar no controlo do surto, mas podendo ser utilizada no futuro em casos semelhantes ao atual.