Emplastros

O prémio ‘emplastro da semana’ vai ex-aequo  para o Expresso e Herman José.

Emplastros I. Há um ‘cavalheiro’ que teima em aparecer nos diretos das televisões junto aos estádios de futebol, com a cabeça por cima do ombro dos entrevistados. É dele que me lembro quando vejo os acompanhantes dos governantes a esticarem o pescoço para ficarem no ‘boneco’. Imaginando que à noite a família se colará à televisão, a dizer «olha o papá ao lado do senhor ministro!», pergunto-me se não há quem se dê conta do ridículo da coisa, mesmo não existindo por ali especialistas de comunicação. 

Acontece que os senhores ministros têm consultores de imagem, e consta que bem pagos. Não poderão os ditos profissionais ‘enxotar as moscas’? E os repórteres? A benefício da qualidade da transmissão, não lhes competiria o cuidado de afastarem aquelas caras de olhos esbugalhados e sorriso estanhado? Compreendo que seja difícil espantar o homem dos futebóis; agora os ‘espontâneos…! Digam-lhes, por exemplo, que um dia o Presidente da República vai passar por ali… e terão direito a uma selfie.

Emplastros II. Também me incomoda o palavreado oco e, mais ainda, a repetição da mesma ideia com embalagens diferentes. Chamem-lhes redundâncias, rodeios, circunlóquios, ou algum dos termos eruditos que estão nos dicionários… os discursos engalanados são uma maçada. O recente debate parlamentar sobre a despenalização da eutanásia foi, neste particular, um penoso exercício de repetição de argumentos, em que só mudavam as palavras. Independentemente das ideias de cada um, percebeu-se que, desta vez, os deputados até se tinham preparado, o que não se entendeu foi a necessidade de ‘borrarem a pintura’ com arrebiques oratórios. Já sabemos que, entre os senhores deputados, há alguns que gostam de falar difícil, à maneira daquelas pessoas que, quando descobriram o significado de ‘simbiose’, nunca mais disseram ‘mistura’. 

Pena que, no nosso Parlamento, não haja alguém com o humor do médico da minha escola comercial. Acusado de falta de atenção pela professora de Físico-Química, que insistia em tomar-lhe o tempo com ansiedades diversas, o imperturbável Dr. Gonçalves explicou ao diretor da escola a causa dos incómodos: «Sabe, senhor diretor, a Dra. Maria do Céu vem para aqui queixar-se de cefaleias… mas eu só sei tratar dores de cabeça».

Emplastros III. Mas o prémio ‘emplastro da semana’ vai ex-aequo para o mau jornalismo, que transformou em manchete alarmista a seriedade da diretora-geral de Saúde, quando admitiu a possibilidade de o número de infetados pelo Covid-19 vir a atingir um milhão de portugueses; e para o clown de serviço – por delicadeza, não uso a palavra palhaço – que, a propósito da recomendação de moderação nos beijos e abraços, produziu esta pérola de bom gosto: «Eu é que não iria beijar a senhora», ou coisa parecida… que lá em casa devem ter achado divertidíssimo! Só mesmo lá em casa, porque não vejo quem mais possa ter achado piada a este nível de rasteirice. Foi por este caminho que Herman José passou de campeão de audiências a recordista do zapping.