Face às críticas, o Governo britânico de Boris Johnson acelerou os esforços contra a covid-19, mas, como seria de esperar, os efeitos não foram imediatos: mais 14 pessoas morreram hoje, aumentando o total de 55 para 69. O número de infeções registadas no Reino Unido, esta terça-feira, está abaixo dos dois mil, mas o número real poderá estar nos 55 mil, admitiu o principal conselheiro científico do Governo britânico, Patrick Vallance, que explicou que cada morte pode significar que outros mil casos de Covid-19. Perante o comité de saúde da Câmara dos Comuns, Vallance acrescentou que manter o número de mortes abaixo dos 20 mil seria um "bom resultado".
Esta discrepância entre casos registados e as estimativas para os números reais pode ser explicada pelo poucos testes efetuados no Reino Unido, ao contrário das orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS). O sistema de saúde britânico já se tenta preparar para a possível avalanche de pacientes, ao suspender todos procedimentos não urgentes e dar alta a pacientes. 15 mil camas poderão vagar deste modo, afirmou ao comité da Câmara dos Comuns Simon Stevens, responsável pelo sistema nacional de saúde, segundo o Independent.
Anteriormente, Boris Johnson previu até 10 mil novos casos até ao fim-de-semana passado. O aumento súbito das estimativas do Governo, para até 55 mil esta terça-feira, pode ter contribuído para que anunciasse medidas de distânciamento social ontem, algo que tinha rejeitado até então. Johnson apelou aos britânicos mais velhos e vulneráveis que ficassem em casa pelo menos nos próximos 12 dias, e aos restantes que evitem viagens desnecessárias, apesar de na semana anterior o seu Governo ter afirmado que tais medidas, demasiado cedo, poderiam ser contraprodutivas ao desgastar o público antes do pico do surto.
Contudo, a viragem na estratégia britânica não foi completa. Por exemplo, segundo Vallance, fechar as escolas não está no topo das prioridades do Governo, devido às suas "complexas consequências". De momento, um dos focos é o aumento do número de ventiladores disponíveis nos hospitais britânicos, essenciais para tratar os casos mais graves da covid-19. Por agora, estão disponíveis menos de 9 mil para os 66 milhões de habitantes do Reino Unido, declarou Stevens, que pretende aumentar esse número para 12 mil nas próximas semanas, através de um apelo aos fabricantes. Será que chegará para o enorme aumento dos casos de Covid-19 previsto? "Depende", respondeu o responsável pelo sistema de saúde britânico.