É através de meios digitais, plataformas e emails que os professores de escolas públicas de norte a sul têm contactado com os alunos desde segunda-feira, numa tentativa de diminuir as dificuldades causadas pela interrupção do ano letivo devido ao novo coronavírus. Em alguns casos são enviadas fichas de trabalho aos alunos para fazerem em casa, noutros realizadas aulas online – em grupo ou individuais – e existem ainda os que se socorrem de plataformas e-learning, como a Escola Virtual, para auxiliar no ensino à distância. A Escola Básica de Telheiras, do Agrupamento Vergílio Ferreira, em Lisboa, é um desses exemplos e, apesar de não existir um plano concertado, alguns professores tentam reunir o máximo possível de material para enviar aos alunos. Uma situação idêntica, por exemplo, à da escola Delfim Santos, em Benfica, onde alguns alunos já começaram a receber fichas através do Google Classroom.
Ao i, Mário Nogueira, líder da Fenprof, confessou que os professores têm adotado medidas diferentes para chegar aos alunos e garantiu que, além disso, o terceiro período escolar encontra-se agora em risco. O Ministério da Educação já criou até instrumentos para que a inscrição nas provas e exames nacionais possa ser feita a partir de casa nos ensinos básico e secundário. Os alunos vão ter de “descarregar, preencher e enviar” um boletim de inscrição, para o correio eletrónico disponibilizado por cada uma das escolas, até 3 de abril e não 24 de março, data que estava inicialmente agendada.
“Não é algo a que estejamos habituados, existem situações famílias de circo que estão também a ter muita dificuldade. Será muito difícil começar o terceiro período a 14 de abril. O pico do vírus está previsto para maio, pelo que deverá ser necessário continuar a adotar o ensino à distância”, sublinhou Mário Nogueira.
A Porto Editora e a LeYa já disponibilizaram acesso gratuito às suas plataformas de ensino virtual.
Apesar de estas serem medidas tomadas praticamente por todas as escolas públicas portuguesas, a incerteza prevalece quanto ao futuro, mesmo ao mais próximo. “Isto ainda é tudo muito incerto, mas o ano letivo provavelmente acabou. Depois haverá reunião com o Ministro da Educação para tentar perceber o que vai acontecer. Provavelmente até maio estaremos como estamos agora, por isso temos de perceber se as medidas adotadas são eficazes”, explicou ao i Jorge Ascensão, presidente da confederação de associações de pais, avançando que este período de quarentena ainda está na fase inicial. Por outro lado, Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Escolas Públicas, adiantou que está a sentir “entusiasmo” por parte dos alunos, por estarem a comunicar com os professores de forma diferente do habitual. “Estão todos entusiasmados com isto. É algo a que nos temos de adaptar, porque não sabemos até quando vai durar”, esclareceu Filinto Lima.
Mas quando se fala de escolas públicas há que referir os cerca de 600 estabelecimentos de ensino que abriram propositadamente para receber filhos de trabalhadores de serviços essenciais, como os dos profissionais de saúde. No entanto, o i sabe que grande parte dessas escolas não têm recebido qualquer aluno, uma vez que só em último recurso é que os pais aceitam deixar as crianças nestas circunstâncias.
Já no que toca ao ensino superior, a plataforma Colibri, disponibilizada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, tem tido uma grande adesão por parte de alunos e professores – tendo registado na segunda-feira mais de 63 mil participantes em cerca de 2700 aulas ou reuniões. “A plataforma continua a registar diariamente um aumento do número de utilizadores, verificando-se uma grande mobilização de todas as instituições de ensino superior na adoção de ambientes colaborativos e de ensino a distância”, informou ontem o Ministério da Ciência tecnologia e Ensino Superior.