Ainda há primárias?

Sanders quer aproveitar a crise provocada pela pandemia para montar o caso que tem vindo a preparar nos últimos 30 anos: a necessidade de um sistema de saúde público nos EUA.

Já sabemos praticamente quem ganhará o troféu da nomeação presidencial democrata: o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Mas o choque trazido pela pandemia abalou o sistema eleitoral norte-americano, com seis estados a adiar as primárias enquanto a Casa Branca insta os cidadãos a não se agruparem em grandes números.

Nas primárias de terça-feira, Biden ‘limpou’ os três estados – Arizona, Florida e Illinois – com largas vantagens sobre Bernie Sanders. Com a propagação do novo coronavírus a assustar cada vez mais o país, o senador independente fica colocado numa posição quase impossível. O vírus domina, adia primárias em vários estados, deixando Sanders sem cobertura mediática e com poucas hipóteses, se algumas ainda houvesse, para alterar o rumo da corrida. Resta-lhe desistir?

Há quem apele para que o faça, uns em silêncio e outros de maneira mais vocal. Mas mesmo com 60% dos delegados distribuídos e Biden bem longe – tem uma vantagem de 300 delegados, o que faz com que seja praticamente impossível Sanders alcançá-lo -, o senador do Vermont quer aproveitar a crise espoletada pela epidemia para montar o caso que tem vindo a preparar há 30 anos: a necessidade de um sistema de saúde público nos EUA e a urgência de baixar os níveis de desigualdade no país. Temas que serão cada vez mais urgentes a cada momento que a epidemia invade os EUA.

O que não impede Biden de tentar unir o partido e tentar captar os eleitores e apoiantes – commumente descritos como os mais entusiastas de toda a corrida – do auto-intitulado socialista democrático. Via stream, Biden primeiro fez um apelo à unidade do país para combater o coronavírus. «Vamos ultrapassar isto juntos», assegurou Biden, para depois tentar unir o partido: «Estou-vos a ouvir, sei o que está em causa, sei o que tenho que fazer».

Apesar do presidente do comité nacional Partido Democrata, Tom Perez, ter apelado aos estados a não empurrarem as primárias para datas mais à frente, as suas súplicas não estão a ser ouvidas, pois tem pouca autoridade nas decisões destes. O Connecticut, a Geórgia, o Ohio, o Indiana, o Luisiana e o Kentucky adiaram todos as primárias para junho.