Carlos dos Santos Gonçalves, nasceu em Beja, no dia 3 de Junho de 1938, e começou a tocar guitarra influenciado pelo pai, que tocava bandolim, por José Nunes e Raul Nery, suas referências fundamentais, apesar de no início da sua aprendizagem ter tocado clarinete na Banda Capricho, em Beja.
Entre 1968/69, torna-se guitarrista de Amália Rodrigues, integrando o grupo liderado então por Fontes Rocha. Segundo o site do Museu do Fado "a sua técnica e sensibilidade musical evidenciam-se na composição de diversos arranjos e de músicas para a voz da fadista, com especial destaque para Lágrima e Grito". Sobre o tema Lágrima o guitarrista confessou ao Museu do Fado: “Eu tinha saído da casa de fados do João Braga, pelas 3 horas da manhã e no caminho fui-me lembrando da melodia, cheguei a casa e passei à Amália pelo telefone. Ela, fora de série, fez um rascunho e daí a uns dias já tinha a letra feita….”.
Para além destes dois temas fundamentais no repertório de Amália Rodrigues, o guitarrista esteve presente na criação de temas como Ai As Gentes, Ai A Vida, Ai, Minha Doce Loucura, Alma Minha, Amor De Mel, Amor De Fel, Entrega, Flor Do Verde Pinho, O Fado Chora-se Bem, Obsessão, Se Deixas De Ser Quem És, entre outros que integram a discografia da fadista.
Em 2004, Carlos Gonçalves apresentou pela primeira vez o lançamento de um álbum a solo, A Essência da Guitarra Portuguesa, onde se destacam algumas das suas melhores composições, por exemplo, O Meu Sentir e Abril em Portugal.
A notícia da morte do artista foi assinalada por vários amigos e apreciadores da sua arte nas redes sociais. Angêlo Freire, guitarrista que participou no álbum Moura de Ana Moura, lamentou a morte do homem que tanto o ensinou: "Não consigo descrever a minha tristeza neste momento! Aprendi tanto, mas tanto com ele, gravou comigo o meu primeiro disco. Porque é que ELE só leva os bons?! Meu querido Carlos, descanse em paz! Que grande ovação com que você vai ser recebido no céu! Até sempre!".
Diogo Clemente, músico e compositor, partilhou no seu instagram uma história pessoal e memória que partilhou com Carlos Gonçalves. Eu tinha 16 anos quando o vi entrar na casa de fado onde íamos tocar os dois, o Fado Maior, em Alfama, e fez-me sentir imediatamente válido. A tratar-me por você de uma forma muito simpática mas directa à alentejana, viu o meu ar apreensivo e disse a sorrir "se você tá aqui pra tocar é pra tocar e mais nada, vá". Vamos todos ter saudades suas e da sua maneira directa de simplificar tudo. Fica a obra que é o que nos define. E que mestria. Abraço amigo Carlos Gonçalves. E já sei a frase que disse quando chegar aí acima pra onde se vai:" isto aqui é igual a todó lado…".
Carlos Gonçalves morreu esta segunda-feira, 23 de março. Tinha 82 anos.