O primeiro-ministro russo, Mikhail Mishustin, deu menos de uma semana às autoridades para preparar um sistema que monitorize a localização de todos os suspeitos de estarem infetados por covid-19, através dos seus telemóveis. Apesar dos temores quanto à perda do direito à privacidade, o Kremlin assegura que a medida é legal, e que o objetivo é usar os dados das torres de rede móvel para enviar um sms a todos os cidadãos que possam ter contactado com pessoas infetadas, para que se isolem.
Por agora, a Rússia, que tem uma longa fronteira com a China e uma população de quase 145 milhões de pessoas, tem menos de 450 casos registados de coronavírus – menos de um quarto das infeções em Portugal. A situação está “no geral, sob controlo”, declarou a semana passada o Presidente russo, Vladimir Putin. O seu país fechou a fronteira com a China logo em finais de janeiro, proibindo entretanto a entrada de estrangeiros no país, além de ter apostado forte em pôr de quarentena as regiões mais afetadas.
Talvez o segredo tenha sido o elevado número de testes levados a cabo pela Rússia – foram mais 156 mil até este fim-de-semana, segundo a Rospotrebnadzor, a agência de defesa do consumidor russa. “O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde disse ‘testar, testar, testar’, lembrou o representante da organização na Rússia, Melita Vujnovic. “Bem, a Rússia começou a fazê-lo literalmente em janeiro”, assegurou à CNN.
Contudo, o número de casos russos é tão baixo que levantou suspeitas em alguns setores. “De acordo com alguns relatos, uma porção dos casos de coronavírus estão a ser mascarados como pneumonia localmente transmitida”, avisou à NBC Ivan Konovalov, líder da Aliança dos Médicos, uma associação de profissionais vista como crítica do regime. As estatísticas mostram um aumento de 37% nos casos de pneumonia em Moscovo, em janeiro, comparativamente ao mesmo período do ano passado. Foi na capital que foram registados mais de metade dos casos de coronavírus na Rússia, e os idosos já foram encorajados a sair da cidade para o campo.