Em tempos de pandemia, o Congresso dos Estados Unidos rapidamente aprovou um pacote de resgate à economia de 2.2 biliões de dólares (quase dois biliões de euros), o maior resgate da história, para fazer face à recessão económica causada pela covid-19. O pacote já tinha sido aprovado pelo Senado na quarta-feira, e recebeu aprovação da Câmara dos Representantes esta sexta-feira, com o apoio de congressistas democratas e republicanos – e certamente será ratificado pelo Presidente Trump.
Entre as medidas aprovadas estão pagamentos de até 1200 dólares (cerca de 1080 euros) a todos os norte-americanos e o aumento dos subsídios de desemprego. Também são contemplados empréstimos e cortes fiscais a pequenas empresas, bem como o envio de milhares de milhões de dólares aos estados, que levam a cabo boa parte da contenção da covid-19, e um aumento significativo do financiamento da saúde, que antes da pandemia já estava sobrecarregada.
Trata-se de uma gigantesca intervenção do Estado na economia, num país historicamente adverso a tal. Com boa parte da população mundial forçada a ficar em casa devido à pandemia, baixou o consumo, a produção e a confiança nos mercados bolsistas desceu a níveis históricos – a crise arrisca ser pior que a de 2007-2008.
O montante aprovado era impensável há apenas duas semanas e a Administração norte-americana espera que os seus efeitos na economia sejam muito maiores do que o seu custo, esperando gerar cerca de 4 biliões de dólares em atividade económica. Nos EUA, «o keynesianismo está sempre presente em momentos de crise», assegurou esta semana ao i João Rodrigues, professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Referia-se às teorias John Keynes, que vê o Estado como interveniente privilegiado na economia, por exemplo através de obras públicas ou incentivos ao consumo.
Não que este pacote de resgate norte-americano contemple somente reforços dos serviços públicos e apoios aos cidadãos, atenção. Por exemplo, o Washington Post avançou esta quinta-feira que, discretamente, os congressistas inseriram uma cláusula que cede 58 mil milhões de dólares (mais de 52 mil milhões euros) a operadoras aéreas. Outra cláusula dá 17 mil milhões a empresas «críticas para a manutenção da segurança nacional» – fontes do jornal norte-americano garantem que quase certamente serão dirigidos à Boeing. Isto apesar do gigante da construção aérea ser criticado por falhas nas suas aeronaves, relacionados com desastres na Etiópia e Indonésia, com um total de 346 mortos.
Apesar da injeção de milhares de milhões em multinacionais, o pacote contém investimento público mais do que suficiente para enervar liberais. «São palavras difíceis para um libertário dizer. Mas isto é a crise mais difícil de que há memória», escreveu Megan McCardle, colunista do Washington Post.