Com mais de 400 mil pessoas infetadas e mais de 20 mil mortos, em três meses, o vírus tomou conta do Planeta e põe à prova todos os líderes, das grandes e das pequenas potências, atacando ricos e pobres, que à deriva, vão ensaiando medidas, sem certezas, e nem mesmo com o apoio da comunidade científica, sabem como o travar.
O que está a acontecer no mundo poderá ser, ou não, oriunda de um mercado na tal cidade chinesa de Wuhan, onde se vendiam animais de várias espécies enjaulados. As imagens desse espaço, do que lá se vende, e como se vende, passaram em todo o mundo. E aí pudemos constatar o que pode implicar a falta de condições mínimas de higiene e salubridade. E percebemos, talvez como nunca, que interferir com as leis da natureza, retirando esses animais dos seus habitats naturais, dando-lhes outro destino que não o seu, pode virar-se contra o homem e contra a humanidade.
A origem do vírus, lá está, somos nós, os humanos, que não respeitamos o equilíbrio da natureza, levando o planeta e os seus ecossistemas ao limite, por querermos sempre mais e mais. Porque queremos produzir cada vez mais para satisfazer os nossos ímpetos consumistas. Porque só pensamos em resultados e achamos que tudo na vida deve estar garantido, seja lá como for e a qualquer custo, e que, por causa disso, ignoramos, sistematicamente, as alterações climáticas e os desequilíbrios sociais e demográficos, que ditam diferenças gritantes entre os povos e as suas condições de vida.
E tudo isto acontece diante de nós, todos os dias, sem que ponhamos termo a este ciclo de destruição massiva do planeta e aos enormes desequilíbrios populacionais, em que muitos têm fome, não têm quaisquer cuidados de saúde, não têm teto, vivem em guerra, em situações dramáticas, muitas das vezes fomentadas pelas lideranças vorazes dos países mais ricos. E nós vendo, seguíamos em diante, indiferentes, movidos unicamente por sentimentos egoístas, sem cuidarmos do bem do próximo e do que é melhor para todos. E foi sempre assim. Sem pararmos para pensar. Até um dia. Esse dia chegou!
Eis que de repente e sem pré-aviso, o vírus para tudo! E parámos todos, de forma exemplar. Com medo, isolámo-nos em casa com a família, a cuidar dos nossos, dos mais novos e dos mais velhos a quem damos ordens contundentes para não saírem de casa. Abraçámos as tarefas domésticas e reinventámo-nos nos hábitos onde a convivência em família, os afetos e o estreitamento de laços ocuparam um espaço até há pouco vazio ou indevidamente valorizado. O trabalho fora de horas deu lugar ao teletrabalho. As viagens, por ora, estão suspensas e os carros estacionados. O consumo desenfreado deu lugar à partilha.
E é assinalável que, em tão pouco tempo, os níveis de poluição tenham diminuído consideravelmente. A redução drástica do tráfego aéreo e a produção no mundo reduziu de forma substancial. O planeta de que tantos falávamos em salvar, ficou melhor de saúde! Não por nós, mas por causa do vírus que nos paralisou. Dá que pensar!
O coronavírus é um alerta para que mudemos de vida, se quisermos sobreviver. Um aviso claro a reclamar a adoção urgente de novos comportamentos, mais sustentáveis, mais altruístas, menos consumistas, que apostem na construção de uma nova economia, mais criativa, de partilha, sustentável e equilibrada. Reinventemos os modos de produção apostando na economia circular, na mobilidade sustentável e na proteção dos recursos naturais.
Aprendamos que o Mundo tem de investir muito mais em infraestruturas básicas, nomeadamente de saneamento, nos Países menos desenvolvidos.
Aproveitemos a extraordinária experiência do teletrabalho sem comprometer a necessária produtividade, alargando-a principalmente ao setor terciário. Aproveitemos a solidariedade que construímos no combate ao vírus para a estendermos aos que mais precisam, cuidando dos que menos têm e também dos mais idosos, que compõem a grande fatia da população. Foquemo-nos no que importa: na família, nas pessoas, na educação dos nossos filhos, na saúde, no bem estar da mente e do corpo, para sermos agentes produtivos felizes, criando os alicerces para uma civilização sã, responsável, equilibrada, justa e solidária.
O que é preciso é um ‘New Begining’, como disse Bill Gates, numa bonita mensagem de há dias. Ele olha para o que se está a passar não como uma tragédia, mas como um corretor. Não dá mais para continuar no mesmo caminho. Não estávamos a fazer tudo mal. A economia de partilha é um exemplo, que cada vez mais leva as novas gerações a não quererem carro próprio, preferindo as bicicletas, as trotinetes, o car sharing, os transportes públicos. Como o é a renovação e a substituição das fontes de energia e, subsequentemente, a generalização de veículos híbridos e elétricos. Mas está muito por reordenar, principalmente a hierarquia das prioridades. Muita vez se falou já, no século passado, mais do que neste, na necessidade de uma Nova Ordem Económica Mundial que agregue esforços e imponha a partilha de meios e saber. Nunca como agora ela foi tão imperativa.
Todo este processo repercutir-se-á no nosso modo de vida, de forma irreversível. Porque todos nós parámos, refletimos e crescemos! Estaremos mais fortes, com a garra e a determinação necessárias para construir um mundo novo onde nós Portugueses, como tantas vezes já demonstrámos, seremos exemplares. Às vezes é preciso parar e até cair, para nos levantarmos de seguida e ganhar balanço para que tudo fique bem!
Os loucos que sempre existiram e continuarão a existir que se convençam que o mundo todo não os vai deixar dar cabo disto tudo. Não volta para trás. Isto tudo é o nosso planeta e as nossas vidas! Os mais novos, nos anos mais recentes, bem que nos alertavam para as questões ambientais, e outros para os enormes desequilíbrios sociais! Agora, não vão ser só eles, vamos ser todos!
por Dina Vieira
Advogada