O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desistiu de isolar o estado de Nova Iorque, epicentro da pandemia de coronavírus no país. O estado já tem mais de 53 mil casos registados, quase metade das mais 123 mil infeções registadas nacionalmente.
"Poderemos não o ter de fazer, mas há a possibilidade de em algum momento hoje termos de fazer um quarentena – a curto prazo, duas semanas para Nova Iorque, provavelmente Nova Jersey, certas partes do Connecticut", dissera sábado à tarde Trump. Horas depois, tweetou: "A quarentena não será necessária". Trump explicou que a decisão foi tomada "após consulta com os governadores de Nova Iorque, New Jersey e Connecticut".
Dizer que o governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo, se opôs à proposta é dizer pouco. Classificou-a como “ultrajante” e “anti-americana”, uma “declaração de guerra” aos estados por parte do Governo federal. O estado de Cuomo foi dos primeiros a impor fortes medidas de isolamento social, avançando com testes em massa quando a Administração Trump tardava em fazê-lo – mas o governador assegurou que se oporia a qualquer bloqueio.
"Então seriamos Wuhan”, queixou-se Cuomo, referindo-se ao primeiro foco da pandemia, isolado durante dois meses pelas autoridades chinesas. De facto, parece ser tarde demais para algo do género: já surgiram focos de contágio de covid-19 por todo o país, de Nova Orleães a Chicago e Detroit.
Em Detroit, antigo pólo da indústria automóvel e um das principais vítimas da desindustrialização, há mais de mil casos de covid-19. Numa escala mais pequena, a situação na cidade “não é diferente do estado de Nova Iorque ou Washington, a sério”, avisou Jenny Atas, uma dos médicos encarregues da resposta na região. Aliás, hospitais no Michigan, o estado de Detroit, já receberam instruções para dividir um ventilador por duas pessoas, caso seja necessário, contou Atas ao Washington Post.
Em Nova Orleães, a pandemia pode ter sido trazida pelas hordas de foliões que inundam a cidade no Mardi Gras. Mais de um milhão de pessoas desfilou nas ruas lotadas de Nova Orleões em 25 de fevereiro, disputando colares de contas atirados das varandas do Bairro Francês – a 9 de março era registado o primeiro caso de covid-19. “Ver casos primeiro em Nova Orleães faz todo o sentido”, disse ao USA Today Richard Oberhelman, professor da Faculdade de Saúde Pública e Medicina Tropical de Tulane. Duas semanas depois, os casos confirmados explodiram para 567 e hoje são quase quatro mil, um dos maiores ritmos de crescimento no país.