Covid-19. Faltam médicos especialistas em cuidados intensivos em Espanha

Conselho de Ministros aprovou um pacote de medidas para os trabalhadores mais afetados pela crise. 

Com o dedo quase a tocar na centena de milhares de casos confirmados, e no dia em que registou um novo e negro recorde de vítimas mortais do coronavírus em 24 horas (849), o Governo espanhol de Pedro Sánchez aprovou esta terça-feira uma nova vaga de políticas paliativas para atenuar a paralisia quase total da economia espanhola. Mas os esforços do sistema de saúde têm de ser redobrados, alertam organizações internacionais.

As medidas destinam-se aos trabalhadores em situações desfavoráveis. Entre várias, o Conselho de Ministros deu luz verde aos subsídios “excecionais” destinados aos trabalhadores temporários que caíram no desemprego depois de o estado de alerta ter entrado em vigor, no valor de 430 euros – o salário mínimo em Espanha é de 1050 euros (brutos). O auxílio exclui alguns trabalhadores temporários. Portanto, destina-se aos trabalhadores “que gozassem de um contrato, no mínimo com a duração de dois meses, e que tenha expirado depois da entrada em vigor do estado de alerta”, conforme explicou o ministério do Trabalho espanhol, citado pelo site eldiario.es. Este subsídio será apenas atribuído num mês e não é cumulativo com outros benefícios sociais ou de desemprego, informa o El País.

O Governo aprovou ainda outro subsídio, desta vez vez concedido aos trabalhadores e trabalhadoras domésticos registados na Segurança Social e que perderam os seus empregos – ou parte deles, visto que muitas vezes acumulam empregos – durante a crise de saúde pública provocada pela covid-19. Em Espanha existem cerca de 400 mil trabalhadores domésticos a contribuir para a Segurança Social: a ajuda será de 70%, de acordo com a sua base contributiva, tendo outras variantes. Mas neste ponto há mais uma exclusão: existem cerca de 180 mil trabalhadores domésticos a trabalhar na economia paralela, segundo a mesma publicação citada acima, não descontando para Segurança Social e, assim, sem direito a receber esta ajuda do Estado espanhol.

Dentro deste pacote de medidas socioeconómicas inclui-se uma moratória nos despejos. “Todos os despejos de pessoas vulneráveis estão suspensos durante seis meses”, declarou Pablo Iglesias, vice-primeiro-ministro e líder do Unidas Podemos. E anunciou também o lançamento de “microcréditos com juros zero para pagar as rendas”, sem comissões e podendo ser pagos em seis anos. Especificando o significado de “pessoas” ou “grupos vulneráveis”, o também ministro dos Direitos Sociais garantiu que a definição era “muito abrangente”. 

Além da proibição de despejos para proteger este grupo social, fica proibido cortar a luz e a água na residência permanente dos cidadãos espanhóis. Esta medida já se estende “a toda a população” enquanto o estado de alerta estiver em vigor, disse Iglesias.

 

Confinamento não basta

O pacote não esconde a negra realidade dos hospitais espanhóis – incluindo as instalações convertidas em unidades hospitalares. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou esta segunda-feira Espanha e Itália, os mais afetados pelo novo coronavírus no continente europeu, que as medidas de confinamento não bastam para controlar a epidemia, embora se veja alguma luz ao fundo do túnel. Explicando que espera que os números em ambos os países estabilizem e que isso significaria que a exposição à covid-19 ia começar a descer com a progressão do tempo, o diretor do programa de emergência da OMS, Michael Ryan, afirmou que não era suficiente esperar que a curva estabilizasse ou que atingisse o pico. 

“Toda a gente fala sobre a curva ascendente e de estabilização. A questão é como [fazer] descer a curva. E descer a curva não é só [impor] o confinamento. Para reduzir os números, os esforços dos sistemas de saúde têm de ser duplicados”, insistiu, a partir de Genebra, Suíça, e citado pelo El País. “Não vai descer por si mesma, tem de ser forçada [a descer]. É nisso que precisamos que os países se foquem”.

O apelo foi partilhado por outro grupo de referência, desta vez diretamente direcionado a Madrid. Os especialistas dos Médicos Sem Fronteiras fizeram um diagnóstico claro do sistema de saúde espanhol: já se encontra sobrecarregado para responder à saturação das unidades de cuidados intensivos (UCI), pois está desprovido de médicos especialistas nessa área para enfrentar a pandemia, revela a Cadena Ser

Segundo fontes da rádio espanhola, a Ifema, feira de Madrid convertida em hospital, tem 68 camas totalmente equipadas mas que não estão a ser utilizadas por não haver médicos especialistas em cuidados intensivos. Sabe a mesma publicação que, no passado domingo, a organização não governamental escreveu uma carta a La Moncloa pedindo que procure estes médicos especialistas noutros países, de forma a aligeirar a pressão sobre as UCI.