A grave crise, que estamos a viver, não tem precedentes nas últimas décadas e será, certamente, a mais grave desde a segunda guerra. É muito diferente da crise de 2008, até porque as consequências são, desde já, muito mais negativas para todos nós.
É uma crise que levará a uma desregulação da própria sociedade e que precisará de muito tempo até ser ultrapassada e, mesmo quando isso acontecer, deixará sequelas muito significativas.
O setor automóvel é um setor barómetro da nossa economia, e tal como aconteceu nas recessões de 2009 e 2012 é um dos setores, ou mesmo o setor, em que a crise mais se fará sentir. Desde logo, as fábricas automóveis em pouco menos de duas semanas estão encerradas em toda a Europa. Esta situação, levou à interrupção de toda a cadeia de abastecimento criando sérias dificuldades a todas as empresas de distribuição e, de modo mais significativo, aos concessionários de automóveis que são pequenas, médias, e até microempresas, distribuídas por todo o país, do litoral ao interior.
Mas, igualmente, todas as empresas deste setor de atividade, que representa 19% do PIB e 25% das exportações de bens transacionáveis, serão fortemente afetadas.
É, por estes motivos, que a ACAP considera que este tem de ser um setor que merece uma especial atenção por parte do Governo.
Terá, pois, de existir um apoio muito concreto quer no imediato, para permitir às empresas uma sobrevivência no curto prazo, quer no período pós-crise, de modo a relançar a procura e aumentar a confiança dos consumidores e das empresas.
No imediato, consideramos que a flexibilização do regime de lay-off, ou o apoio através de linhas de crédito específicas para as empresas, com garantia do Estado, é fundamental. Posteriormente, e logo no período de relançamento da economia que todos esperamos que seja rápido, serão também necessárias soluções conjuntas, mesmo a nível europeu, para sair desta crise. E aqui, o programa de incentivo ao abate de veículos em fim de vida será vital para retomar a procura, tal como aconteceu em 2009.
Relembro que, na crise de 2008/2009, a Europa dividiu-se entre os países, sobretudo do norte, que superaram rapidamente a crise e outros, onde Portugal se incluiu, em que a saída da crise passou por um processo bastante difícil.
Esperamos todos que na saída desta difícil situação, provocada pelo coronavírus, a Europa tenha aprendido a lição e exista uma maior compreensão entre os diversos países e uma maior solidariedade entre o norte e o sul. Esta crise não resulta de uma má aplicação de políticas económicas ou orçamentais, por parte dos governos, mas é uma epidemia à escala global.
Só assim, num período de ceticismo em relação ao ideal europeu, agravado pela recente saída do Reino Unido, teremos perspetivas de um futuro promissor para a própria União Europeia, como todos esperamos.
E isto, porque cada vez mais estamos dependentes das diversas estratégias geopolíticas de que a recente guerra comercial entre China e Estados Unidos foi um claro exemplo. Este é mais um motivo para a absoluta necessidade de termos uma Europa mais forte para enfrentar os desafios que se vão colocar na saída desta crise.
Mas esta crise é diferente de todas as outras, pela imprevisibilidade com que está a evoluir e por afetar, de igual modo, todos os países sejam do primeiro ou do terceiro mundo.
Mas, aquilo que se pode concluir é que o mundo ficará, certamente, diferente!
Helder Pedro. Secretário-geral ACAP