O mundo foi invadido e não há pequena aldeia nem irredutíveis guerreiros que escapem. Não há situação mais séria do que esta. Nunca, nos nossos tempos, houve tanta necessidade de ser solidário, de cuidar o próximo como nos cuidamos a nós próprios, de evitar o contágio ao mesmo tempo que nos disponibilizamos para as tarefas do dia a dia, para pensar o futuro que, mais do que nunca, desejamos que venha breve.
Do comum das pessoas, esperam-se grandes preocupações e pequenos gestos.
Que fiquem em casa e que guardem para depois os abraços. Que trabalhem sempre, onde quer que estejam. Que não faltem nas suas obrigações profissionais, mais ainda nos serviços essenciais. Estes não irão parar, pois com eles pararia o país. Nos transportes, na eletricidade, nos combustíveis, nos esgotos, na água, nos resíduos, na prevenção contra cheias ou incêndios. Devemos todos saber reconhecer o duplo esforço destas profissões que, já em dias normais, são muito exigentes, e que mais duras se tornam pelo receio do contágio e porque todos e todas os que neles trabalham estão horas longe daqueles que os preocupam. Agradeço muito a todos os que nas entidades e empresas, direta ou indiretamente por mim tuteladas, se entregam com dedicação e profissionalismo, num momento em que o seu esforço vai muito além do simples dever profissional.
Mas os gestos e as atitudes de cada um de nós serão também importantes para que tudo funcione com a regularidade possível.
Reduzida a procura nos transportes coletivos em cerca de 80%, foi a oferta cortada para metade, mantendo a extensão dos horários, isto é, não prejudicando os que entram muito cedo ou saem muito tarde do trabalho. É necessário poupar os profissionais das empresas e guardá-los para que, daqui a dias, no caso da pandemia se prolongar, termos os trabalhadores necessários para que nunca os transportes deixem de funcionar. Comparando oferta e procura, parece evidente que conseguiremos garantir que, em média, nunca as composições dos metros ou os autocarros terão mais de 1/3 da sua lotação. Mas nunca o poderemos garantir em absoluto e por cada vez que o metro ou um autocarro nos passa à frente. Mais ainda, quando, e, para evitar contactos desnecessários, suspendemos a validação dos bilhetes. Por isso, caberá a cada um o juízo de entrar ou não entrar no autocarro ou no Metro. E se achar que não consegue ter para si ou para os outros a distância necessária aos outros passageiros, é simples, não entre.
Também o sistema de recolha de resíduos se encontra nestes dias sob grande pressão. Peço a todos que tenham um grande respeito pela saúde pública e por aqueles e aquelas que trabalham neste setor, desde os que passam à sua porta aos que nunca se vêem, porque estão nas estações de triagem. Não deite luvas nem máscaras pela retrete e, de igual forma, não as coloque nos contentores de recolha separativa: desfaça-se delas sempre no caixote do lixo indiferenciado. Não deixe de separar os resíduos, mas, se em sua casa houver alguém contaminado com o vírus, coloque todas as embalagens em contacto com o doente no lixo indiferenciado e não se esqueça de colocar um outro saco a envolver o primeiro.
Estes são pedidos e conselhos para o imediato.
Mas o futuro vem a seguir. A economia irá crescer logo depois deste período negro, e temos de garantir que ela crescerá dentro dos limites dos nossos sistemas naturais. Corramos a fazer pela recuperação, mas corramos a fazer bem. Apostemos no desenvolvimento de transportes coletivos e modos suaves de mobilidade. Façamos os investimentos certos para termos eletricidade produzida por fontes renováveis. Saibamos desenvolver sistemas eficientes de utilização da água para todas as atividades. Pensemos em novas formas de consumo mais sustentáveis e de produção mais circular. Valorizemos o nosso capital natural e a nossa biodiversidade. Pensemos o território urbano para as pessoas.
Passada a tormenta, o futuro vem já aí, e, se nos mantivemos responsáveis neste período crítico, ele vai ser para todos nós.
*João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente e da Ação Climática