Não, não veio surpreender ninguém. Os tempos de pandemia são terreno fértil para a difusão de discursos demagógicos.
Da esquerda à direita (com especial incidência na extrema direita e extrema esquerda), temos assistido a uma comunicação perigosa que tenta “colar” uma certa inércia ao projeto europeu no combate ao COVID-19.
Não passa de um erro estratégico a ideia de que a UE nada está a fazer pelos países, não passa de esquizofrénica a crença de que separados venceremos uma ameaça comum.
Dizer que a união europeia não está empenhada em combater o vírus, não só é falso como facilmente refutável com factos: a comissão europeia lançou, a 28 de fevereiro, um concurso público para a aquisição de proteção individual, dia 17 de março, lançou novo concurso, desta vez para a aquisição de ventiladores.
O que poucos sabem é que a empresa alemã que está na linha da frente da descoberta da vacina para o vírus é, também, financiada por fundos da UE.
No entanto,para discutir esta situação de uma forma honesta, temos de ter a noção de três coisas: a primeira é de que nenhuma organização no mundo estava preparada para uma situação destas, a segunda é de que não existem organizações perfeitas, e a terceira é entender que a união europeia não é exceção às duas primeiras.
De uma forma geral, o discurso antieuropeísta tem sucesso onde reina a desinformação e só pode ser combatido com factos.
Quanto aos senadores do discurso anticomunitário, senti sempre uma natural desconfiança daqueles que tanto mal têm a dizer de um projeto que tem como principal objetivo a paz, e como fim último as pessoas.
O perigo deste género de discurso é ter anexado a ele o risco de perda de liberdades e direitos dos cidadãos. Acredito que o tema das liberdades e direitos é o segundo maior problema com o qual a Europa se debate atualmente.
Recentemente vimos o parlamento húngaro conceder poderes ao seu primeiro ministro, Viktor Orbán. Resumidamente, deu-se um cancelamento provisório da democracia para alegadamente agilizar as medidas de combate ao COVID-19.
Este género de acontecimentos duvidosos verificou-se um pouco por toda a europa e foi nas redes sociais que assisti a uma onda de elogios e agradecimentos à China, sim, à China!
Assisti a isso com surpresa, não entendendo exatamente se aquelas pessoas sabiam o que estavam a publicar, a única conclusão que tirei foi que o faziam, talvez porque não vivem lá.
Li tantas declarações de amor ao governo chinês que quase me esqueci que se tratava de uma ditadura.
Pessoalmente, não entrei nessas condecorações, essencialmente por acreditar que mais do que mandar aviões com máscaras e ventiladores, o que a China realmente devia ao mundo era ter dado ouvidos àquele pobre médico que tentou denunciar o vírus, numa altura precoce, ao invés de o abafar e acusar de lançar o pânico.
É curioso que desta história ninguém concluiu que não se conseguem salvar vidas com uma comunidade científica amordaçada e que a função da ciência não é servir um regime, mas sim a humanidade.
Que fique para registo futuro a ideia de que a liberdade de expressão pode evitar mortes, ilustrada pelos rostos daqueles médicos chineses que tentaram alertar o mundo de uma nova doença e desapareceram do mapa.
Quanto tempo demorarão os terráqueos a entender que as ideologias extremistas acabam sempre com a morte de pessoas inocentes?!
Neste momento, acredito que um dos papéis mais fulcrais da união europeia seja o de travão dessas ideologias, evitando, assim, que as mesmas voltem a tomar conta da Europa.
Mais do que nunca, a sociedade precisa de um discurso sóbrio e moderado bem como uma corrente focada em estancar este problema que é urgente, porque é sangrento.
Acredito ser agora o tempo em que é necessário manter um sentimento europeísta forte. É necessário manter esse sentimento construtor, de raízes fixas, mas de espírito livre, de ADN inovador e que, mesmo em alturas de crise, é um hino à moderação.
Um dia, Robert Schuman disse: “Não nos limitaremos a aproximar os estados, queremos unir os homens”.
E foi ao ler esta frase que fiquei com a sensação que não havia mais nada a dizer.
António Rosas, Estudante de gestão na Universidade Católica de Viseu, Membro da direção da AAV