As próximas duas semanas vão ser as mais críticas no combate à pandemia nos Estados Unidos, país que já soma um quarto dos casos confirmados no globo – os olhos viram-se todos para Washington e para a forma como gere o combate à covid-19. Mas há ainda quem não tenha dado ordens de confinamento, apesar dos inúmeros alertas.
“As próximas duas semanas são extraordinariamente importantes”, disse Deborah Birx, médica responsável pela resposta da Casa Branca à crise do coronavírus. “Este é o momento para não se ir à mercearia, não ir à farmácia, mas para se fazer tudo o que se pode para manterem as suas famílias e amigos em segurança, e isso significa que toda a gente tem que cumprir a distância de dois metros e lavar as mãos”. Um aviso que foi partilhado pelo Presidente Donald Trump. “Vai haver imensas mortes”, afirmou.
Um alerta repetido por Jerome Adams, este domingo, que afirmou que esta semana ia ocorrer uma catástrofee nacional comparável aos momentos mais dramáticos da história norte-americana. “Esta vai ser a semana mais difícil e mais triste para a maioria das vidas americanas, muito francamente”, disse, à Fox News, Adams, responsável por uma autoridade de saúde pública norte-americana. “Vai ser o nosso momento Pearl Harbour, o nosso momento 11 de setembro, só que não vai ser localizado. Vai acontecer por todo o país”.
Sábado foi o dia mais negro nos EUA no que toca ao registo de mortes num só dia: 1344. À medida que o vírus se vai alastrando em todo o país, este balanço promete ser apenas o primeiro de muitos registos recorde que ninguém gostaria de contabilizar. Até sábado, os EUA contavam com mais de 8 mil mortes e mais de 300 mil casos, segundo os dados compilados pela Universidade John Hopkins.
Números e alertas que parecem não assustar alguns governadores do país – nem a projeção da Casa Branca, que estima que morrerão entre 100 mil a 240 mil pessoas nos EUA devido à covid-19. Até hoje, são oito os estados norte-americanos que ainda não emitiram ordens de confinamento residencial, todos eles controlados por republicanos – o Alabama fê-lo na sexta-feira.
Os argumentos destes governadores para não se dar ordens para ficar em casa são vários, mas não convencem o outro responsável pela resposta ao coronavírus, Anthony Fauci, o especialista máximo do país em doenças infecciosas. “Se olharmos para o que se está a passar neste país, simplesmente não entendo porque estão a fazê-lo”, disse Fauci, referindo-se aos estados que não deram ordens de confinamento.
Foram precisos 70 dias para Donald Trump parar de minimizar o perigo representado pela pandemia, segundo o Washington Post, e a resposta à pandemia complica-se dada a natureza descentralizada do sistema político dos EUA. Ainda assim, Trump continua a recusar dar a ordem de confinamento a nível federal, preferindo deixar esta nas mãos dos governadores. “Temos uma coisa chamada Constituição”, argumentou o ocupante da Casa Branca.
Entre os estados que se abstiveram de impor o confinamento estão o Iowa, Nebraska, Dakota do Sul e Dakota do Norte – onde está a boa parte da produção agrícola do país. Adams ainda assim tentou apelar aos governadores a tentarem impor o confinamento, sem interromper o fornecimento de alimentos. “O que eu diria a esses governadores é, se puderem dar-nos um mês, deem-nos o que puderem. Deem-nos uma semana”, suplicou. “Deem-nos o que puderem para ficarem em casa durante este tempo particularmente difícil quando estivermos a atingir o nosso pico, nos próximos sete a 10 dias”.