Se é certo que esta crise expôs as fragilidades dos laços económicos com a República Popular da China, nomeadamente no que diz respeito ao fornecimento de equipamento e material médico, também é certo que revelou a falta de reformas económicas estruturais um pouco por toda a União Europeia no que diz respeito à digitalização da economia e à sua capacidade adaptativa em termos industriais. Outra questão que se levanta com a crise do Covid-19 e que tem que ser urgentemente revista pelo mundo ocidental e oriental é o quão influenciada se encontram a ONU e as suas instituições pela propaganda da Partido Comunista Chinês (PCP). Numa crise como esta não podemos viver com a possibilidade da República Popular da China ter branqueado as suas estatísticas e de estar a utilizar os seus canais diplomáticos para encharcar as redes sociais com acusações de que o vírus começou, alegadamente, em Itália ou que foi trazido para Wuhan em 2019, aquando dos Jogos Militares Mundiais.
De igual forma o mundo não pode continuar a aceitar que as estatísticas sobre o coronavírus na saudavelmente democrática República da China (Taiwan), sejam ignoradas pela OMS, e que a vida e as políticas de saúde de sucesso de um arquipélago com 23,78 milhões de habitantes continuem a não ter voz no seio da comunidade internacional.
É tempo do Ocidente se libertar das amarras impostas, quer pela China quer por Taiwan, pela Política de uma China única, estas forjadas entre KMT (Kuomitang) e o PCP com o Consenso de 1992. É altura do Ocidente se comprometer com o regime democrático e político assegurado por Taiwan; é tempo do Ocidente se unir em torno de uma política externa de “Uma Nação, Dois Estados”, à China e a Taiwan.
Já na Europa, o tempo pós-Covid-19 tem que passar inevitavelmente por uma discussão sobre os limites, se é que existem, relativamente à solidariedade europeia e por um reforço de competências da União na área da Saúde. De igual forma, a União terá que rever o que considera ser estratégico em termos produtivos no seu território e repensar o futuro da união monetária; esta última, nos moldes atuais, mantém a Trindade Impossível, i.e. manter simultaneamente a soberania orçamental/fiscal, uma política monetária independente e zero cláusulas de resgate. Algo terá que ceder, ou a perda de soberania orçamental/fiscal, ou a implementação de cláusulas de resgate.
Quanto à Região Autónoma da Madeira e à sua classe política esta terá que inevitavelmente lutar por um estatuto de autonomia idêntico àquele assegurado pela Lei Básica de Macau, com excepção do prazo de validade, pois com esta crise ficou patente o quão necessário é ter poderes suficientes não só para fechar aeroportos, quando for necessário, mas também um sistema fiscal próprio que permita assegurar uma maior almofada fiscal e instrumentos de suporte à economia que não dependam de uma metrópole silenciosa e aparentemente omissa para com as Regiões Autónomas.
Uma coisa é certa, o mundo mundo pós-Covid-19 não será o mesmo. Urge refletir qual o destino que pretendemos nesta viagem.
por Miguel Pinto-Correia