António Sales fez, esta quarta-feira, o balanço diário sobre o novo coronavírus em Portugal. Há 13.141 casos de covid-19 em Portugal, 649 confirmados nas últimas 24 horas, o que representa um crescimento de 5.6%. 1200 pessoas estão internadas, das quais 245 estão em Unidades de Cuidados Intensivos. Existem 11.354 pessoas em tratamento domicilário, 86.4% dos pacientes infetados.
No total, já morreram 380 pessoas vítimas de covid-19 no país, mais 35 óbitos do que os registados na terça-feira. 195 pessoas já recuperaram do novo vírus. A taxa global da doença no país é de 2.9%. Em pessoas acima dos 70 anos é de 11.3%
O secretário de estado da Saúde afirma que apesar de "a curva portuguesa ter oscilações, a nossa resposta à propação do vírus tem de ser firme e determinada". Uma das maiores preocupações do Ministério da Saúde desde o ínicio da pandemia são os lares de idosos e os utentes dos mesmos. "Neste momento estão a ser realizadas centenas de testagens em utentes e profissionais em lares de todo o país", afirma António Sales. "Portugal só vence esta dificil provação com o empenho de todos, somos todos necessários neste caminho", apela o secretário de Estado da Saúde.
Sobre os cuidados a ter com utentes de lares de idosos, Graça Freitas sublinha que "qualquer pessoa que entre num lar deverá ter dois testes negativos", afirma Graça Freitas. No entanto, isto não incluí utentes que saem dos lares para receber tratamento hospitalar. Estes utentes devem apenas ficar em isolamento 14 dias e não necessitam de realizar outro teste.
"Podemos não ter médicos suficientes de medicina intensiva para tratar todos os doentes mas está pensada toda uma estrutura que permita o tratamento adequado"
A resposta da medicina intensiva tem sido "exelente", de acordo com João Gouveia, presidente da Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva para covid-19. "Temos conseguido acompanhar a capacidade instalada e a capacidade de resposta, graças ao esforço de todos", aponta. João Gouveia afirma que estão a ser adquiridos não só novos equipamentos mas também os recursos humanos. "Não ha medicina intensiva sem recursos humanos"; aponta, mostrando por um lado que existe toda uma estrutura montada para combater esta falta. "Podemos não ter médicos suficientes de medicina intensiva para tratar todos os doentes mas está pensada toda uma estrutura que permita o tratamento adequado desses doentes sob o cuidado de outros profissionais e sob a responsabilidade dos médicos de medicina intensiva", garante João Gouveia.
"Temos uma carencia crónica de ventiladores, de monitores, de camas de medicina intensiva de nível 3" mas isso tem estado a ser combatido, sublinha João Gouveia, que diz que a distribuição de materiais está a ser feita "com critérios objetivos, de efetividade, segurança e urgencia".
144 ventiladores que chegaram a Portugal já foram distribuídos e alguns, por vontade dos próprios doadores, foram entregues a hospitais específicios. João Gouveia dá o exemplo da Galp, que pediu expressamente que 19 ventiladores fossem entregues no Hospital de São João e no Centro Hospitalar Universitário do Porto. Outra doadora, pediu também que 78 ventiladores fossem entregues na Unidade metropolitana de Lisboa. Os outros ventiladores foram distribuídos de acordo com os critérios estabelecidos pela TaskForce, 76% desses ventiladores foram entregues à ARS do Norte, devido à necessidade de reforçar os materias nos hospitais da região. Os hospitais da ARS do norte receberam ainda 60 aparelhos, 43% dos aparelhos que podiam atribuir ao país.
"Que não exista nenhuma dúvida que há garantidamente um reforço da capacidade de testagem"
O objetivo do Ministério da Saúde é que os materiais necessários no combate à pandemia e kits de testagem "cheguem aos locais mais precisos e de forma equatitativa". Foram distribuídos, na semana passada, 65 mil testes no norte do país, a região mais afetada pelo novo coronavírus.
Desde o dia 1 de março, foram processadas mais de 130 mil amostras para diagnóstico de covid-19 no país, aponta António Sales, que diz que estão a ser feitos diariamente o máximo de testes possível, dentro da capacidade diária do sistema de saúde – 11 mil testes.
"Temos de fazer todos os dias um ajustamento da testagem. Que não exista nenhuma dúvida que há garantidamente um reforço da capacidade de testagem" sublinha António Sales. Questionado sobre o porquê de alguns lares estarem a ser priorizados na testagem em relação a outros, o secretário da Saúde aponta que tem a ver com a "densidade de lares que há em cada região do país" mas que o Ministério está atento e disposto "para corrigir alguma assimetria que possa surgir".
"Nao temos falta de testes. Temos algumas dificuldades nos reagentes de extração que estamos a tentar resolver. E todos estes componentes é que fazem os testes. Não podemos fazer um teste sem um reagente de extração" aponta, deixando a mensagem que todos os esfoços para reforçar o número de testes estão a ser feitos.
Portugal já atingiu o surto? "Isto não é garantido, isto não é a gripe"
Questionada sobre a realização de testes sorológicos, realizado, por exemplo, por Marcelo Rebelo de Sousa, onde é possível analisar se a pessoa já tem anticorpos contra a covid-19 e se está imune ao vírus, Graça Freitas aponta que "um teste serológico só deve ser feito quando há subida de anticorpos. Esse teste só será útil na fase de convalescença da doença. E a ciência ainda não nos disse qual o tempo necessário. Ainda estamos a aprender com outros países. Quando soubermos mais sobre estes testes, será muito útil para as pessoas poderem regressar à sua vida normal", disse a diretora-geral da Saúde, apontando que o Instituto Ricardo Jorge está a "acompanhar muito bem esta situação" e que estes testes podem vir a ser "muito importantes " para as pessoas poderem voltar à vida normal.
A diretora-geral da Saúde afirma que é impossível, nesta altura, saber quantos portugueses estão imunues à covid-19. "Ainda é desconhecido que anticorpos são protetores. Varia de micro-organismo para micro-organismo. Ainda é prematuro fazer esses testes de imunidade. O covid-19 chegou a Portugal há pouco mais de um mês e os primeiros doentes estão agora a ter a subida de anticorpos", esclarece Graça Freitas.
Questionada sobre o país já ter atingido o surto, como tem sido noticiado, Graça Freitas diz que não se pode ter certezas apesar de ter havido uma establidade no número de casos. "Os cientistas projetam o futuro e acertam nas curvas. Entre a curva real e a curva projetada, os cientistas fazem uma estimativa e daí surgiu o planalto. Mas isto não é garantido, isto não é a gripe", aponta. "Se abrandarmos medidas, podemos ter um segundo pico, um segundo planalto e uma segunda ou uma terceira onda. Temos de ser cautelosos na interpretação dos dados reais e das projeções", apela.
Sobre a taxa de letalidade nas diferentes regiões do país, Graça Freitas explica que este fator tem a ver com a quantidade de idosos na região, densidade populacional e chegada do surto a lares de idosos e aponta que "a taxa de letalidade da zona norte é sobreponível à do país e a da zona centro está acima da nacional (5.1%). A de Lisboa é inferior à nacional e a do Algarve superior. "