Depois do dia mais mortífero do surto de covid-19 no Estados Unidos, foi o pandemónio na Casa Branca. O Presidente Donald Trump está debaixo de fogo pela revelação de que ignorou os alertas do seu próprio conselheiro para o comércio, Peter Navarro, que lhe escreveu em finais de janeiro a avisar que o vírus podia custar milhões de vidas norte-americanas e triliões de dólares à economia. A reação do Presidente, ao culpar a Organização Mundial de Saúde (OMS), ameaçando cortar-lhe os fundos em plena pandemia, antes de recuar, não ajudou.
“Vamos suspender o dinheiro gasto na OMS. Vamos pôr um travão muito poderoso”, ameaçou Donald Trump, perante os jornalistas. “Eles enganaram-se. Eles falharam, podiam ter avisado meses antes”, queixou-se o Presidente, que a 30 de janeiro, o mesmo dia em que a OMS classificou a covid-19 como uma emergência de saúde pública, declarou num comício que o vírus seria “um problema muito pequeno” para os EUA. “Vai ter um final muito feliz para nós, posso garantir-vos”, prometeu na altura – quase um mês depois, Trump ainda comparava a covid-19 com a gripe comum.
Não é claro que o Presidente do EUA, que apelidou a OMS de “chinocêntrica”, vá de facto cortar a contribuição norte-americana à organização, num altura em que já há mais de 420 mil infetados pela covid-19 no seu país, e mais de 14 mil mortes. Aliás, Trump desmentiu-se momentos depois, na mesma conferência de imprensa. Questionado se seria uma boa altura para o fazer, o Presidente declarou: “Não estou a dizer que o vamos fazer, mas vamos ponderar”.
“Ainda estamos na fase aguda da pandemia, portanto agora não é a altura para cortar o financiamento”, reagiu, o diretor da OMS para a Europa, Hans Kluge. Entretanto, enquanto o Presidente culpa a organização pelos falhanços na resposta dos EUA à covid-19, a maioria dos norte-americanos culpa-o a ele: 55% considera que o Governo federal fez um mau trabalho a evitar o alastrar da crise, segundo uma sondagem de quarta-feira da CNN e da SSRS, com aumento de 8% na última semana.
A questão é que nas eleições presidenciais de novembro, este não será um assunto menor. Uma análise da Reuters e da Ipsos mostra que um em cada cinco eleitores de Trump em 2016 vive em áreas de risco acrescido à pandemia, por motivos económicos ou de saúde.