Ainda estamos a viver a guerra, corpos, ruínas e cinzas. Não existe mais ‘o culto dos mortos’. Apenas a fé que cada um trás dentro de si. Eu digo: Só o amor nos pode salvar porque só tenho ‘fé’ no amor. Como reagir a uma das maiores pandemias mundiais a que iremos assistir? Uma pandemia que de forma arrasadora irá destruir o setor da saúde, o social e político do mundo inteiro? Já o génio da Microsoft, Bill Gates havia avisado para a proximidade desta calamidade. Mas ninguém se preparou. Olhamos para os números de mortos e infetados como uma flecha que tende em não parar de subir. Ou se ‘estanca’, não desce. A mim, só me ocorre algo, que nos irá unir sempre, como uma cola global e paciente para fazer frente a esta catástrofe, o amor universal. Só ele nos pode salvar.
Enquanto os cuidados intensivos são invadidos pela doença, os médicos choram, perante algo que nunca antes viram. Vidas perdidas perante os olhos de uma despedida sem família. Apenas, telemóveis ou iPads são os seus confortos. Aparelhos e os médicos, sempre lá. Sempre presentes. Nunca dão um passo atrás. Pessoas confinadas que reconfortam os seus vizinhos em apartamentos, através das varandas ou janelas com músicas, poemas ou leituras, como se esses representassem a força de um abraço ou de um beijo. E como faz falta esse beijo ou abraço. Cidades inteiras completamente vazias como um autêntico filme do apocalipse, sem as histórias dos velhotes no antigo bairro ou de um ‘Bom dia menina!’ Para alegrar o dia. Nunca o mundo teve tanta sede de afetos. De sentir a pele de outro ser humano. De se sentir amado. Acho que o mundo entrou em depressão. Depressão de afetos. Não imagino quantas cartas ficam perdidas no espaço, com palavras por dizer. Não imagino quantas despedidas foram engolidas por um vírus que não se vê e pelo choque da ausência sentida na hora de alguém que amamos ir embora.
A imagem absolutamente impávida e solitária do Papa Francisco a percorrer o adro da Basílica de São Pedro, num dia cinzento marcado pela morte e pela chuva, fez até o mais descrente cidadão, estremecer: «Não nos salvamos sozinhos», disse. Enquanto homem e erudito que é, não podia eu enquanto mulher e mãe concordar mais com as suas palavras.
E isto porque, aqui neste novo mundo, não se tratam de crenças ou ideologias políticas mas sim de um bem maior, o amor em tempo de guerra. Aprendemos assim, que não somos intocáveis, nem somos máquinas, mas somos seres de carne e sangue, onde a proximidade do outro não deve ser o que nos destrói mas aquilo que nos salva!