Em 2020 atravessamos um dos maiores desafios que a humanidade teve de enfrentar nas últimas décadas – a covid-19. Aquilo que no início parecia um filme de ficção científica, rapidamente se tornou na nossa realidade do dia-a-dia. Fechados em casa, quando saímos levamos as máscaras, as luvas, o gel desinfetante e guardamos a distância recomendada em relação àqueles que nos circundam. Não sabemos quanto tempo durará a pandemia, nem sequer o alcance dos impactos que esta terá na saúde, na economia, na sociedade, na forma como nos nos relacionamos e nos organizamos como comunidade.
Mas a gravidade da pandemia e o compromisso e consenso generalizado a que chegámos para fazer face à covid-19 em Portugal não se pode traduzir num unanimismo bacoco e atávico que contrarie aquela que é a principal vocação da Política: a capacidade de encontrar respostas para os problemas que as pessoas e a sociedade enfrentam.
Um dos maiores problemas desta pandemia é a rapidez dos acontecimentos que altera substancialmente aquilo que dávamos por adquirido. Um dos exemplos mais paradigmáticos desta situação é a circunstância de, nas últimas semanas, o desafio ter sido o de adquirimos urgentemente mais ventiladores e o seguinte ser agora o de estarmos em risco de não termos médicos de medicina intensiva em número suficiente para trabalhar com os novos equipamentos.
No meio do caos, destaca-se a o compromisso, o respeito e a responsabilidade com que os portugueses têm lidado com a pandemia. Em várias situações, antecipando-se até ao poder político ao exigir, por exemplo, a declaração do estado de emergência ou o encerramento das escolas, medidas que acabariam por ser tomadas uns dias depois.
Estamos longe de conseguir antecipar muitas das consequências desta pandemia. Sabemos, no entanto, que terá um efeito multiplicador das desigualdades. E esse é o principal desafio que teremos pela frente.
A Educação é um dos setores em que o aprofundamento das desigualdades é mais evidente. Desigualdades que resultam do facto de haver famílias sem acesso a computador, telemóvel ou outro dispositivo, bem como a falta de acesso à internet para manter o contacto com a Escola e com os professores (mais de 5% dos agregados familiares com filhos até aos 15 anos não têm acesso à internet em casa). Desigualdades que resultam do facto de, não havendo aulas presenciais, o papel dos encarregados de educação ser mais preponderante, bem como as suas qualificações. Desigualdades que decorrem de nem todas as escolas, nem todos os professores terem o mesmo grau de compromisso com o ensino à distância e o recurso às novas tecnologias.
De todas as consequências da pandemia, é tempo de olhar para as poucas que sejam positivas. Uma delas é na Escola. Infelizmente, será apenas por força das circunstâncias em que nos encontramos, mas é fundamental que consigamos retirar dela o efeito útil de garantirmos que em todas as Escolas, seja em que circunstâncias forem, o recurso às novas tecnologias e a capacitação de todos aqueles que fazem parte da comunidade escolar são garantidos em condições de maior equidade, tornando-nos desta forma mais resilientes. É agora a oportunidade de finalmente implementarmos a Escola do Futuro.
Margarida Balseiro Lopes
Deputada do PSD