Esta é uma crise sem precedentes. A pandemia que vivemos começou por ser uma crise sanitária, mas rapidamente evolui para uma crise da economia mundial.
No setor do turismo, desde as viagens à hotelaria, o impacto é enorme. Em Portugal, os hotéis, até junho, estarão quase todos encerrados, já que dependemos em cerca de 90% do transporte aéreo, cujo recomeço da operação continua indefinido. As empresas hoteleiras, neste momento, reduziram os seus custos e estão a receber apoio para poder manter os seus colaboradores. A maioria dos empresários já implementaram ou vão implementar o regime de layoff simplificado.
O impacto na quebra da taxa de ocupação, a nível nacional, vai ultrapassar os 90%, de março a junho, o que significará cerca de 13,1 milhões de dormidas perdidas. Depois da reabertura dos hotéis, a partir de julho, a ocupação média será muito baixa, podendo ser, no entanto, melhor nos resorts.
No final do ano, as vendas serão inferiores em 40%, em comparação com o ano de 2019, e, consequentemente, os resultados serão negativos.
Também os hotéis que previsivelmente abririam no início do ano têm agora as suas inaugurações adiadas.
Dificilmente, nos próximos tempos, a hotelaria nacional poderá recuperar, até porque sabemos que o ritmo de retoma da atividade das viagens e turismo vai ser lento e difícil, mas, a partir de março de 2021, esperamos que os mercados voltem aos níveis de 2019, podendo, a partir dessa data, aumentar significativamente a procura, desde que esteja encontrada a vacina adequada.
Hoje, o mundo está todo no mesmo barco: Portugal, os destinos nossos concorrentes e os mercados emissores de turistas, todos a recuperar e a retomar a sua economia.
Como já todos percebemos, estamos perante o maior desafio deste século. É, por isso, fundamental que haja mobilização e união de todos. Só assim vamos conseguir ultrapassar a situação em que nos encontramos.
Um mês depois dos primeiros casos em Portugal, muito já foi feito, mas sabemos que vai ser preciso fazer muito mais. As medidas anunciadas pelo Governo, e que impactam diretamente na hotelaria, são corretas e ponderadas. Todavia, é necessário alargar os prazos de reembolso dos empréstimos, que têm de ser de cinco ou seis anos, para que as empresas possam retomar a sua atividade em condições de honrar os seus compromissos.
O próximo verão será ainda um tempo de reorganização, pelo que a aposta deverá ser no mercado interno e no mercado interno alargado (Portugal e Espanha). Temos um país muito rico, com uma enorme diversidade e com muito por descobrir. Há que atrair os portugueses para que possam passar as suas férias ‘cá dentro’.
A qualidade e excelência da hotelaria portuguesa é reconhecida em todo o mundo. Os empresários hoteleiros tiveram sempre a capacidade de inovar e de se reinventar, criar novos conceitos e experiências, pelo que, quando chegar o momento, é preciso promover Portugal e motivar as pessoas para que uns fiquem e outros venham a Portugal.
O turismo tem a capacidade de ajudar a criar um mundo melhor, pelo que, passado este momento difícil, é altura de dar mais valor ao que ele tem para nos oferecer.
Uma certeza temos: nada será igual!
Raul Martins
Presidente da Associação da Hotelaria de Portugal