«Vós preguntades polo voss’ amigo e eu ben vos digo que é san’ e vivo»
Dom Dinis
Como vai ser depois é a pergunta que, de quando em vez, todos os mais próximos, nomeadamente os jovens, nos fazem.
Digo-lhes, por vezes, que o importante é sabermos viver o momento presente, mas em vão.
As questões que aí vêm, as que já cá estavam e as que sejam agravadas ou novas, sociais, económicas, políticas, pessoais, não nos incitam a ignorá-las, nem a rir, nem a chorar, antes a observar melhor o que é a natureza, a condição humana, o mundo. Entre o medo e a ansiedade da incerteza desponta a coragem e a esperança.
Com a esperança de que a crise que vivemos nos tenha ensinado alguma coisa se vier a ser recorrente, numa renovada governança mundial. com a esperança de que a liberdade em muitos sítios cerceada e agora espalhada por todo o lado se liberte de insuportáveis cadeias.
Com a esperança de que a vigilância numérica não seja definitiva.
Com a esperança de que as desigualdades quantitativas e qualitativas se esbatam fortemente numa sociedade mais justa.
Com a esperança de que tenhamos aprendido que só a fraternidade, a solidariedade, a cooperação, o vivermos juntos na diversidade, sem egotismos, cinismo e incompetência, nos salvam.
Com a esperança de que não tenhamos medo dos outros, ou nos tornemos mais violentos, que tenhamos confiança, que os afetos não se recolham, que sejamos humanistas com a bandeira da dignidade humana, combatendo a ignorância, o preconceito, a inveja, o afrodisíaco dos pequenos e dos grandes poderes.
Com a esperança de que a presença do Estado numa economia social e liberal seja de bem-estar.
Com a esperança de que este período nos tenha feito e faça refletir que sentido vamos dar às nossas vidas, à recomposição das famílias, aos laços sociais, ao desenvolvimento sustentável, às implicações do digital, ao transumanismo, ao pós-humanismo, às desigualdades, ao comunitarismo, ao multiculturalismo, ao interculturalismo, à laicidade, às religiões, à economia comum, ao decrescimento económico, ao trabalho, ao rendimento mínimo, à uberização das sociedades, às democraturas, ao capitalismo de vigilância, às guerras pelos recursos e violência ideológica, às migrações, à fome, à miséria.
Como vai ser depois?
Aquilo que forem as mudanças da nossa vida interior, dos nossos comportamentos.
Esperemos que estejamos cá todos.
Fernando Lima
Grão-mestre do Grande Oriente Lusitano