É difícil fazer futurologia perante o cenário inédito que estamos a viver, que não sabemos quanto tempo irá durar e que consequências concretas terá no nosso panorama económico.
Fechámos o ano de 2019 com uma taxa de crescimento de 2% no número de transações de alojamentos familiares. Apesar de o ritmo ter abrandado, o que já era expetável não pela falta de procura, mas pela falta de stock que vinha a verificar-se, o imobiliário conseguiu registar um aumento positivo.
De repente passámos a ter de lidar com os primeiros danos desta pandemia, completamente inesperados, que se prendem com o adiamento de investimentos, com a quebra da procura e com o cancelamento de escrituras que estavam agendadas, que deixaram muitas empresas a braços com uma situação absolutamente imprevisível.
O que sabemos, pela análise dos números e da economia, é que a situação que vivemos terá um impacto económico sem igual, com consequências que serão inimagináveis nas nossas vidas pessoais e profissionais. Temos de nos convencer de que, quando o vírus desaparecer, teremos em mãos um vírus igualmente nefasto com que lidar.
A vida vai mudar. A economia vai mudar. Vamos voltar a viver uma crise, desta vez sem precedentes, e é preciso que nos mentalizemos todos que o que vem aí não será fácil.
Mas é claro que tem de haver um olhar de otimismo sobre o imobiliário. Não há dúvida de que as nossas empresas estão hoje muito mais bem preparadas para enfrentar um golpe do que estavam no período da troika. Nem todas conseguirão suportar o impacto, mas as que conseguirem atravessar este momento farão uma vez mais o seu papel para que o setor se reafirme como uma força motriz da economia nacional. Estaremos, uma vez mais, na linha da frente para a captação de investimento e a dinamização económica.
Perante este cenário, creio que se avizinha um período com alguns desafios, nomeadamente relacionados com alguma quebra da procura estrangeira, motivada pelas questões sanitárias que farão com que, nos próximos tempos, haja uma tendência para o adiamento de investimentos e uma retração nas viagens, e também no mercado doméstico, devido à quebra do poder de compra das famílias motivada pela instabilidade laboral que é expetável.
Por outro lado, surge a oportunidade da dinamização do mercado de arrendamento e do investimento para este setor (que se estima que cresça) e também uma janela de oportunidade na captação de não residentes para Portugal que, não sendo imediata, poderá ser promovida pela generalização do teletrabalho e pela segurança que o país tem transmitido pela forma como está a lidar com esta crise sanitária.
Perante tantas incertezas sobre o que aí vem, uma coisa é certa: a APEMIP continuará fazer o seu trabalho de defesa do imobiliário e da classe, contribuindo para que este setor volte, como já demonstrou no passado, a ser uma das principais alavancas da recuperação económica do país.
Luís Lima
Presidente da APEMIP