A paralisia económica global trazida pelo novo coronavírus atirou uma avalanche de trabalhadores norte-americanos para o desemprego, em números inimagináveis há apenas algumas semanas. E há ainda alguns estados que resistem a impor o confinamento.
O tsunami, portanto, continua: na semana passada, 6,6 milhões de pessoas candidataram-se ao subsídio de desemprego, anunciou esta quinta-feira o Departamento do Trabalho dos EUA. O valor anunciado é ligeiramente inferior ao registado na semana anterior, em que 6,9 milhões se candidataram ao auxílio, segundo o Washington Post. No total, e em apenas quatro semanas, são mais de 17 milhões de pessoas que ficaram sem os seus empregos – mais do que a última recessão produziu em dois anos.
É como se «a economia, no seu todo, tivesse caído repentinamente numa espécie de buraco negro», disse ao New York Times Kathy Bostjancic, economista financeira chefe dos EUA na Oxford Economics. Ainda assim, a maior parte dos especialistas espera que o desemprego atinja mais de 20 milhões de pessoas nos EUA, com a taxa a disparar para valores entre 13% e 15% – em fevereiro, era de 3,5% e o coronavírus conseguiu a também a proeza de interromper 113 meses de criação de emprego no país, o mais longo período de criação de emprego da história norte-americana.
Quase todos os setores económicos estão a diminuir a sua força de trabalho e a realizar cortes salariais, depois de mais de 40 estados terem instruído as populações a cumprirem o confinamento. «O relatório de hoje continua a refletir o sacrifício feito pelos trabalhadores dos EUA e das suas famílias para retardar a disseminação do coronavírus», disse o secretário do Trabalho dos EUA, Eugene Scalia.
«Isto não é uma recessão. É Grande Depressão II», escreveu Chris Rupkey, economista-chefe do Banco MUFG, numa nota aos seus clientes, citada pelo Washington Post.
Ao mesmo tempo em que o Departamento do Trabalho anunciava este número, a Reserva Federal disse que podia injetar até 2,3 biliões de dólares na economia do país. O banco central afirmou que ia fazê-lo através de fundos do Departamento do Tesouro, já autorizados pelo Congresso, para comprar títulos de dívida municipais e para expandir a compra de títulos de dívida de grandes corporações – o que inclui dívida de baixo e alto risco.
Óbitos revistos em baixa
Com cerca de 316 milhões de norte-americanos em isolamento, existem ainda cinco estados que não deram qualquer ordem para os cidadãos se resguardarem em casa, segundo o diário nova-iorquino – Arkansas, Iowa, Nebraska, Dakota do Norte e Dakota do Sul. Destes, só o Arkansas apresenta mais de 1000 casos confirmados, explica o mesmo órgão de comunicação.
Ainda assim, e com os EUA quase a chegarem ao meio milhão de infeções confirmadas (um terço do total do mundo inteiro), as estimativas de óbitos causados pelo coronavírus baixaram drasticamente. Segundo a coordenadora da Casa Branca responsável pela resposta ao coronavírus, Deborah Birx, neste momento, espera-se que morram entre 61 mil e 87 mil pessoas no país até 4 de agosto – o modelo anterior previa entre 100 mil e 240 mil óbitos. Mas Birx fez questão de ressalvar que «ainda existe um montante significativo» de pessoas com a doença. E as projeções mudaram porque o comportamento dos norte-americanos mudou, disse Birx.
Esta revisão dá-se porque todos os dias são introduzidos novos dados sobre a trajetória da pandemia, tanto dos EUA como de todo o globo. Ou seja, os modelos sugerem que as medidas de distanciamento social estão ter melhores resultados do que o esperado, explica a CNN. Desde o início que os investigadores do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington, responsáveis pela criação do modelo, enfatizaram que este iria mudar conforme a situação fosse evoluindo e novos dados fossem introduzidos.