A covid-19 é já a pior crise mundial dos nossos tempos – uma crise que ninguém previa e que vai deixar uma marca na humanidade. A nossa forma de viver, de trabalhar, de socializar será, a partir de 2020, obrigatoriamente outra.
Muitos países estão a enfrentar uma excessiva procura de cuidados de saúde, sendo crítica a existência de poucas camas e ventiladores nos cuidados intensivos. A resposta a esta necessidade de aumentar os cuidados de saúde tem implicado transformar hotéis, quartéis e escolas em unidades de cuidados intensivos, e por todo o lado proliferam exemplos de empresas que se reinventam e constroem ventiladores. Dada a escassez de profissionais de saúde perante tanta necessidade, há um apelo aos que já estão reformados, à formação das forças policiais e de voluntários, enquanto as forças armadas assumem responsabilidades da polícia.
A maioria dos economistas preveem uma enorme recessão, sendo já generalizado um grave impacto em todos os setores. O estudo The economics of a pandemic: the case of Covid-19, da London Business School e do Wheeler Institute for Business and Development (março 2020), indica que, em particular, o impacto no setor turístico está a ser avassalador, nomeadamente no turismo e hotelaria (com uma recuperação prevista apenas a partir da primavera), aviação e linhas aéreas (prevê-se que a recuperação será mais rápida para o turismo interno, e bem mais lenta para as viagens mais distantes e/ou internacionais), óleo e gás, indústria automóvel e produtos de consumo.
Em termos sociais, o impacto deste isolamento também é preocupante. De acordo com vários especialistas, o distanciamento social é fundamental para prever futuras infeções, mas a solidão também pode deixar-nos doentes.
Esta situação, no entanto, também tem potenciado a criatividade e a reinvenção, que poderão deixar sinais positivos para o futuro. As empresas testam agora o teletrabalho e podem equacionar que, no futuro, os seus colaboradores trabalhem a partir de casa, dando uma maior flexibilidade aos colaboradores e diminuindo o congestionamento nas cidades. Em termos laborais, as pessoas com maiores competências (educação, serviços financeiros, trabalhos corporativos) estão mais capacitadas para fazer teletrabalho. No entanto, nem todos podem fazê-lo (manufaturação, retalho, lazer, construção e transportes dificilmente podem).
Em termos da educação, esta situação poderá ser uma oportunidade crítica para a educação digital. Com o encerramento das escolas estabeleceu-se a ‘escola a partir de casa’, com tutoriais online e com maior envolvimento por parte dos pais. No entanto, este é um fator que ainda potencia graves desigualdades, dado que o acesso a recursos online não é universal e o encerramento das escolas afeta as famílias menos favorecidas.
As diferentes instituições começam agora a apostar na digitalização dos seus serviços (computadores portáteis que potenciem o trabalho à distância, sistemas de videoconferência, entre outros), a dispor de mais atendimento online e a potenciar as reuniões via conference calls, reduzindo deslocações, o que também é um fator importante em termos de sustentabilidade.
Em termos económicos, esta crise obrigará ao encerramento definitivo de muitas empresas, com um aumento de layoffs e uma queda no consumo. Se não houver medidas sérias por parte dos governos, os custos económicos a curto/médio prazo serão incomensuráveis.
É uma evidência que deve ser dada prioridade ao investimento na saúde. No entanto, o desembolso de fundos de apoio às empresas e às famílias tem de ser uma realidade e deve ser feito agora, para acautelar custos económicos irreparáveis no futuro. Também os bancos centrais devem financiar os Governos, não apenas com as suas reservas, mas imprimindo dinheiro, se necessário.
Será importante que a sociedade adote medidas para a preparação e resposta a futuras pandemias, de modo que as pessoas em geral, e os Governos em particular, possam melhorar a sua capacidade de fazer face a crises como esta no futuro.
Para finalizar, uma última reflexão. Esta crise global precisa de uma resposta global. Nenhum país tem capacidade para, sozinho, aguentar este impacto.
Pedro Machado
Presidente da Turismo Centro Portugal