O Presidente da República e o primeiro-ministro em consonância com o presidente da Assembleia da República e alguns deputados acharam de bom tom comemorar o 25 de Abril na Assembleia com convidados à mistura e com os nossos bolsos vazios a pagar as festividades. Acho que todos os cidadãos que se dignem e celebrem a liberdade estariam de acordo com esta mesma ‘celebração’ digna da receção de ilustres convidados, não tivéssemos nós próprios a ser condicionados e privados das nossas mais derradeiras liberdades enquanto cidadãos, mesmo que enfardados de impostos, antigamente até tinham uma boa ‘desculpa’ para fazê-lo como a fazem. Agora não podemos chorar a morte de um ente querido no seu funeral. Não podemos estar com um familiar infetado pelo vírus covid-19 no hospital, enquanto ele desespera por afetos mesmo na hora da sua morte, mas alguém achou de bom ‘tom’ ir às lagostas na Assembleia. Não podemos também reunir-nos com os nossos familiares. Tenho a certeza que a liberdade não se trata disto. Nem os marcos que fazem dela digna. Nem tão pouco os cravos encarnados vivos que foram o seu símbolo de esperança!
Estamos a viver um estado de calamidade. Uma pandemia. Um símbolo que represente essa calamidade não é representado pelas mais altas figuras no estado a fazer uma parada na assembleia, porque isso é mais do mesmo, com menos do mais. E algumas câmaras de televisão à mistura para não dar um ar tão fechado e privado, não vão fazer de nós participantes. Apenas temos menos deputados ativos. Menos pompa e circunstância. Menos alguns custos saídos do mesmo lado. A festinha para que todos pensem que fazem parte mas que realmente não fazem. Para que usem o cravo ao peito, quando de facto usam espinhos. Os cravos, esses, estão a ser utilizados pelos profissionais de saúde, pelos funcionários dos supermercados, das farmácias, pelos camionistas dos bens essenciais, por todos aqueles que fazem este país andar para a frente de acordo com os ideias de Abril. Este 25 de Abril não pode ser igual aos outros, pois vivemos um mundo novo. E quem não percebe isso, não percebe nada. Mais uma vez, gra nde parte dos portugueses percebe isso antes dos seus governantes, quando antes do tempo previsto pelo próprio Governo tomou a liberdade pelas suas próprias mãos e encerrou as escolas e se isolou em casa. Essa é a liberdade de Abril. Esta festinha da Assembleia é apenas isso. Que a façam. Agora afinal vêm dizer que são só 100. Obrigam a que antigos Presidentes da República e generais, se vejam obrigados a justificar o injustificável. Fizeram disto um circo. Que não seja a representação de um povo.
O povo que faça a sua própria celebração do 25 de Abril. Respeitando a sua liberdade, a do próximo e a do mundo inteiro em tempo de uma das maiores pandemias a que mundo irá alguma vez assistir. O exemplo que ficou por dar, vai ser dado mais uma vez por todos nós, participantes ativos da consciência comum. É altura de partilharmos os cravos. Eu dou-te o meu.