Prever o futuro não é tarefa fácil. Que o diga quem trabalha na minha profissão e que tem de fazer prognósticos sobre o desempenho de candidatos que o cliente vai contratar. Empresas como a Boyden são contratadas para encontrar candidatos, de acordo com determinados requisitos, e garantir que o candidato escolhido desempenhará, no mínimo, com normalidade (sucesso esperado) a sua função. Assim, existe aqui uma certa previsão do futuro; como poderemos nós saber como vai ser o desempenho de determinado candidato no futuro? Não podemos.
No entanto, embora não possamos saber, com certeza, podemos prever; e arrisco dizer que a taxa de acerto tem sido bastante alta.
Prever a forma como alguém se comportará no futuro é muito facilitado por conhecer a forma como essa pessoa se comportou no passado, em situações muito semelhantes. Assim, ao conhecermos a cultura do nosso cliente e compreendermos como é entendido o sucesso nessa cultura, ao analisarmos o comportamento passado dos candidatos em ambientes semelhantes, torna-se possível fazer previsões mais ou menos acertadas sobre os mais adequados para a função.
Enfim, esta introdução serve apenas para justificar que quem está mais preparado para analisar a situação atual e prever o futuro talvez sejam os historiadores que se especializaram nos períodos em que houve outras grandes pandemias; talvez na idade média e no período da gripe espanhola.
Tendo isto dito e partindo do princípio de que o que estamos a viver não se vai transformar numa catástrofe (que mate mais de 50% da população que acredito que não) não creio que, no longo prazo, esta pandemia vá alterar o comportamento das pessoas e das sociedades.
No curto prazo, sim. Provavelmente acelerará algumas evoluções no conhecimento científico, nos métodos e processos de trabalho. Talvez o trabalho à distância (que já era uma tendência) sofra um acréscimo que, de outra forma, demoraria mais uns anos; talvez a investigação cientifica conclua coisas que, de outra forma só de aqui a um par de anos se saberiam; talvez algumas empresas desapareçam mais depressa do que desapareceriam sem pandemia, para dar lugar a outras melhores; talvez algumas pessoas (políticos e técnicos do serviço público) se revelem (como competentes ou incompetentes) mais depressa do que sem emergência pandémica; enfim, a evolução pode acelerar um pouco mas a trajetória será a mesma.
É provável que, daqui a um ano, já pouca gente se lembre do que aconteceu, para além dos que perderam entes queridos e postos de trabalho. E vendo bem as coisas, estes acontecimentos fazem parte da incerteza da vida. Pior são as guerras, que essas sim, controladas pelos intervenientes e que gratuitamente matam milhões de pessoas, mas que, como para muitos de nós, esses mortos não nos são próximos nem pensamos que nos possa acontecer, não nos preocupam. O mundo tem doenças, sempre teve, e todos morreremos um dia. Esta é só mais uma, que a humanidade ultrapassará.
Observando o que se passa em outros países, diria que mais dia menos dia, voltaremos ao trabalho com equipamento de proteção (máscaras e luvas) espero que mais cedo do que mais tarde, enquanto que o medo de morrer da doença seja maior do que o desespero da expectativa de morrer da cura. Isso sim, pode por a ordem social em causa.
Assim, acredito que no curto prazo (até dois meses) as escolas voltarão a abrir, as pessoas voltarão a ir trabalhar, os mais idosos serão mais vigiados e objeto de medidas de restrição e, infelizmente, alguns de nós, morrerão mais prematuramente. Lamento profundamente pelas suas famílias e amigos, mas é o preço a pagar por se ter nascido num mundo onde o que é certo é a incerteza.
*Fernando Neves de Almeida, presidente da Boyden Portugal