A Boeing revelou esta quarta-feira que no primeiro trimestre do ano fiscal teve um prejuízo de 628 milhões de dólares (558 milhões de euros), devido ao impacto da pandemia de covid-19, e que vai despedir 16 mil trabalhadores enquanto procura liquidez.
“Vamos ser uma empresa mais pequena durante um tempo. Temos trabalhado arduamente para manter a estabilidade da força de trabalho (…), mas vemos que nos próximos anos, com a queda da procura, a produção não permite suportar a força laboral que hoje temos”, disse o presidente executivo da empresa aeronáutica norte-americana, David Calhoun, numa teleconferência de apresentação dos resultados trimestrais.
O gestor referiu ainda que a Boeing está a “adotar medidas para reduzir a sua força de trabalho em cerca de 10% até ao final deste ano”, de um total de 160 mil trabalhadores, através da “combinação de rescisões amigáveis e despedimentos”.
A Boeing está a enfrentar “uma crise global sem comparação alguma com outras” e está a focar-se em “conseguir liquidez”, tendo agradecido aos 26 países que avançaram com pacotes de ajuda económica específicos para o setor aeroespacial e das companhias aéreas. A Boeing está ainda a “avaliar as opções de financiamento” que lhe foram oferecidas pelo Estados Unidos, através da Reserva Federal (Fed).
Após fechar 2019 com o seu primeiro ano de prejuízos, o que aconteceu em mais de duas décadas, a Boeing, que está submersa pelo escândalo com os acidentes ocorridos com o modelo 737 MAX, teve no primeiro trimestre do ano mais um impacto negativo com a pandemia. Assim, entre janeiro e março deste ano, reportou 628 milhões de dólares (558 milhões de euros) de prejuízos, contra um lucro de 2 149 milhões de dólares alcançados no mesmo período do ano passado.
A faturação trimestral da Boeing recuou 26% em termos homólogos, para 16 908 milhões de dólares, enquanto o fluxo de caixa operacional passou para negativo, com os despesas no montante de 4 300 milhões dólares, já que os seus clientes, principalmente as companhias aéreas atingidas pelo colapso do tráfego aéreo, atrasaram as suas compras, o que se repercutiu nas entregas e adiaram a manutenção e recuperação dos equipamentos.
David Calhoun referiu também que os “princípios fundamentais” nos quais assentam as viagens aéreas desde há cinco décadas e que permitiram dobrar o tráfego aéreo nas duas últimas décadas “permanecem intactos", mas prevê que vai levar “dois ou três anos para retornar aos níveis das viagens de 2019 e mais alguns anos para que o setor regresse à tendência de longo prazo”.
A empresa tomou medidas para enfrentar a “nova realidade do mercado”, tendo abandonado a recompra de ações e a distribuição de dividendos e pedido um empréstimo de longo prazo no montante de quase 14 mil milhões de dólares.
Entretanto, esta semana, a Boeing desistiu de fechar um acordo com a brasileira Embraer que lhe custaria cerca de 4 200 milhões de dólares.