por Inês Moreira da Cruz
Aprendizagens em família.
Humildade, cooperação, confiança. E o relato do meu filho:
Chamo-me Diogo. Tenho 6 anos e ando no 1.º ano de escolaridade.
Agora não posso ir à escola por causa da quarentena. Ainda há pouco tempo nem sabia o que isso era.
Só o meu pai sai de casa para trabalhar.
Ele é o máximo! Conversamos muito. Jogamos à bola. Somos parecidos. Gostamos os dois imenso de matemática. Temos o mesmo clube de futebol e até os remoinhos do cabelo são iguais!
Um dia o meu pai chegou a casa aborrecido. Vi logo pela cara dele. Foi procurar a minha mãe e vi que ela ficou muito séria. Passava-se qualquer coisa de estranho.
Foram os dois sentar-se à volta da mesa da sala.
Também fui e puxei uma cadeira para mim. Havia papéis em cima da mesa. Quis saber o que eram e foi a minha mãe que respondeu. Eram avisos de contas para pagar.
Falavam em horas vazias e horas cheias.
Eu já conheço as marés vazias e as marés cheias e copos cheios e copos vazios. Mas horas?
Percebi alguma coisa da conversa deles. A conta da luz era muito alta em comparação com as dos meses anteriores.
A minha mãe explicava que estando nós agora todo o tempo em casa era normal que assim fosse. Também a vi fazer mais máquinas de roupa, mas era preciso ter cuidado com o vírus e lavar bem a roupa que o meu pai trazia do trabalho.
Esperei que se calassem um pouco e arrisquei:
– O que são horas cheias? E vazias?
O meu pai levantou-se, foi ao armário, abriu a gaveta e tirou um papel. Voltou a sentar-se e começou a explicar-me que aquilo era uma tabela com cores diferentes. Uma cor representava as horas do vazio e a outra as horas do cheio.
E também me disse que num período se paga mais caro pela luz e no outro é mais barato.
Deve ter percebido que eu estava a gostar de o ouvir e então resolveu pedir a minha ajuda.
– Queres colaborar?
Fiquei contente.
Quis saber o que tinha que fazer.
– Vais lembrar a mãe que só pode ligar as máquinas da roupa e da loiça nas horas do vazio.
Aceitei.
No outro dia a minha mãe chamou-me. Queria saber se podia lavar a roupa na máquina.
Fui à cozinha e olhei para o painel da máquina. Marcava 1.02.
Depois olhei para o relógio pendurado na parede. Pedi ajuda. Conversei com a mãe. Fiz perguntas e alguns cálculos. Conclusão: não dava para lavar a roupa.
E se escolhêssemos outro programa?
Novas perguntas. Mais descobertas. Mais ajuda e novos cálculos.
Gosto de aprender assim.
Para mim tudo é brincadeira, tudo é jogo.
Acho que os meus pais sabem disso. Mas o melhor é perguntar-lhes.
O quê?!!!
Novas perguntas. Outras experiências.
Sem fim!