Cristina Ferreira recebeu, esta quinta-feira, no seu programa, na SIC, Maria João Ruela. A antiga jornalista, que agora é assessora para os assuntos sociais do Presidente da República, regressou à estação de Paço de Arcos e recordou o momento em que foi baleada no Iraque, em 2003.
“Estava tranquila e feliz porque estava a fazer aquilo que eu queria fazer. Sem medo. Eu tive um acidente de trabalho, Cristina. É o mesmo se tu caíres aqui e partires uma perna. Fui vítima de um assalto, que, naquelas circunstâncias, foi um bocadinho mais bruto”, começa por contar.
“Durante uma fase, depois de ter saído do hospital, em que me sentia muito fragilizada… corri risco de vida… tudo me fazia muita impressão! Andar na estrada, um carro que ultrapassasse, porque o carro que nos assaltou fez assim uma ultrapassagem ligeira e eu recordo-me dessa imagem, de ver um senhor assim com um dente de ouro, dentro desse carro”, recordou.
Maria João Ruela, que esteve na SIC durante 24 anos, admite que se apercebeu que “ia deixar de fazer muitas coisas que gostava de fazer, do ponto de vista físico”. “Tive de me adaptar a esse registo. Deixei de poder correr… sou coxa. Não mexo uma perna do joelho para baixo. Tive de me reenquadrar na minha existência. Até mesmo na apresentação, por exemplo, os pivôs de informação andam sempre para trás e para a frente, então agora nos novos estúdios nem se fala. Isso para mim era impossível, porque eu ou olho para os pés ou para o teleponto. Não posso usar sapatos como os teus, todos bonitos, de salto alto. Deixei de poder fazer reportagens, como eu gostava, que exigissem a capacidade de fugir e de correr, mas continuei a fazer algumas reportagens e mudei o foco do meu trabalho. Passei a estar mais nos bastidores, a coordenar equipas, que também é um trabalho interessante”, confessou.
Durante o programa, Cristina Ferreira voltou a transmitir as imagens do momento que foi anunciado aos portugueses que Carlos Raleiras, da TSF, tinha sido raptado e que Maria João Ruela tinha sido baleada. Ao recordar o momento, Maria João Ruela mostrou-se emocionada. “O Raleiras teve uma experiência mais alucinante, por ter estado raptado durante 36 horas, mais do que um dia e o Rui do Ó [o repórter de imagem da SIC que estava no Iraque] que, no fundo, tomou todas as decisões certas. A ele devo o facto de estar aqui hoje. Acho eu”, disse.
A agora assessora de Marcelo Rebelo de Sousa, de 50 anos, diz que guarda a bala “em casa”. “Nem sequer vou olhar para ela. Foi prática, já me ajudou. Por exemplo, eu sei que não posso fazer ressonâncias magnéticas porque uma vez ia-me meter numa máquina de ressonâncias, levaram a bala, o médico lembrou-se e, como tenho muitos estilhaços ainda, a bala ficou colada à máquina. Significava que se me pusesse lá dentro todos os estilhaços iam-se deslocar lá dentro. Há dez anos fiz uma radiografia e tinha muitos pontinhos”, revelou.
“É uma realidade. Não tenho que estar a olhar para trás com tristeza. Sou assim e o melhor que tenho a fazer é continuar a ser assim”, rematou.