Desde que se instalou o atual cenário desta pandemia na qual navegamos que os bancos focados no seu papel/apoio à atual crise do covid-19 têm estado debaixo dos holofotes. É certo que opiniões e considerações políticas à parte, as mais altas figuras da nação pronunciaram-se logo avivando a memória que, por contraposição ao que se passou em 2008 em que os bancos foram os principais responsáveis pela crise do sub-prime que afectou e muito os países do sul da Europa, neste momento de 2020 competia à banca ‘retribuir’ aos portugueses aquilo que lhes fora concedido em 2008 ‘soit-disant’. Não obstante o negócio bancário se ter equilibrado desde então apesar dos sobressaltos do BPN e do BES, em que os bancos foram chamados a contribuir para o fundo de resolução e as taxas de juros cada vez mais ‘desinteressantes’ provocando margens cada vez mais reduzidas, o certo é que a banca conseguiu equilibrar-se apesar da entrada em campo nos últimos tempos das Fintechs / Start-Ups e dos Neobanks, do aumento das medidas regulatórias e dos crescentes requisitos de capital.
Logo após o soar dos alarmes na passada sexta-feira 13/03, os bancos foram ‘sensibilizados’ para apoiarem os ‘portugueses’ em questões como as moratórias, o crédito/apoios as famílias e estarão a tentar dar resposta a todas as questões relacionadas com o day-after, trabalhando em cenários diversos pós-crise que para muitos é uma verdadeira incógnita e deve-se colocar/posicionar em diversas frentes possíveis incluindo a de um ‘ressuscitar’ deste ou outro vírus.
O que é certamente menos conhecido e merece uma atenção especial, assenta no novo paradigma à volta do qual se hierarquizará o modelo de negócio operacional de uma instituição bancária e nos quais os bancos se encontram num processo de aceleração que passa também pela imagem de bancos do futuro… É inquestionável que há muito se discute, e certamente todos já ouvimos nos fóruns e na imprensa, a ‘transformação digital’ da banca /open banking ou a era da disrupção que o setor financeiro enfrenta, mas não menos certo é que o momento atual veio acelerar este processo pondo em cima da mesa duas questões fundamentais: em que medida estavam as instituições bancárias preparadas para uma hecatombe que de um dia para o outro surpreendeu o mundo, impondo um recolher obrigatório a todos as empresas e uma portabilidade da essência do seu negócio para casa dos trabalhadores com base do teletrabalho, permitindo assim o acesso por parte dos trabalhadores ao core das suas atividades como se estivessem no ‘banco’ e obrigando a que de imediato centenas de milhares de trabalhadores de um banco pudessem aceder à rede da sua instituição a partir de casa (caso do Millennium BCP, Caixa e noutro contexto alguns bancos espanhóis que já haviam desenhado uma solução deste género em caso de catástrofe natural género sismo), mas também do papel das agencias bancárias no novo modelo de paradigma do ‘digital’ em que a tendência será para um ‘robot’ bancário se substituir ao empregado do balcão e ao aparecimento gradual dos bancos tecnológicos, também chamados de Neobancos na gíria bancária casos do n26, Monese, Revolut e mais recentemente o Moey (’nascido’ do banco de cariz agrícola Crédito Agrícola). Como terceiro eixo de reflexão, impõe-se debruçar sobre o ‘upscale’ que numa lógica de escala quebrará as barreiras entre os vários departamentos de um banco fazendo evoluir os bancos para uma profunda transformação que os posicionará na linha de concorrência com os ‘emergentes’ ou os bancos tecnológicos onde se incluem, entre outros, os mencionados anteriormente.
É certo que a maioria dos bancos já trabalha nestes pontos mas todos terão de acelerar este processo, que se encontra a meio caminho para muitos deles, sob pena de perderem a sua competitividade num mercado exíguo e onde as margens são cada vez mais apertadas.
Paulo Soares de Oliveira, PSO Knowledge /Forum Financeiro Outlook