Os cidadãos britânicos de etnia negra a viverem em Inglaterra e no País de Gales enfrentam o quádruplo do risco de morte por covid-19 em relação às pessoas consideradas brancas, concluiu um estudo realizado pelo Office for National Statistics (ONS) e publicado esta quinta-feira. O documento expõe uma realidade dramática da desigualdade socioeconómica vigente no Reino Unido.
Quando se tem em conta na análise a idade, refere o ONS, nos cidadãos negros masculinos a possibilidade de falecerem com o vírus é 4,2 vezes maior do que nos homens de etnia branca; nas mulheres negras o rácio é 4,3 vezes superior, comparando tanto com homens como com mulheres brancas das referidas nações do Reino Unido.
O impacto causado pelo vírus na comunidade negra não tem a ver apenas com as diferenças socioeconómicas, de saúde, níveis de educação e condições de habitabilidade, refere o ONS. Mesmo retirando estes fatores sociodemográficos, os negros do País de Gales e de Inglaterra têm o dobro da probabilidade, em relação aos brancos, de falecerem por covid-19.
Já entre os cidadãos masculinos com origem no Bangladeche e do Paquistão, a probabilidade de morrerem com covid-19 é 1,8 vezes maior do que entre os homens brancos, depois de retirados da equação os fatores sociodemográficos preexistentes. Já as mulheres provenientes dos mesmos países correm um risco 1,6 vezes superior aos das suas congéneres brancas.
«As diferenças no risco de morte ao longo dos grupos étnicos pode estar relacionada com fatores demográficos e socio-económicos tal como com o perfil clínico de uma pessoa», lê-se no documento. Explica o ONS que estas diferenças podem estar relacionadas com a probabilidade de infeção (ou seja, estarem mais expostos) ou com o risco de morte uma vez que se é infetado. Estes grupos têm maior probabilidade de se encontrarem na linha da frente do Serviço Nacional de Saúde: 21% dos trabalhadores são de minorias étnicas, enquanto representam 14% da população de Inglaterra e do País de Gales, diz o Guardian.
Enquanto apenas 2% das famílias brancas experienciaram a sobrelotação nos seus lares, entre 2014 e 2017, 30% das famílias do Bangladeche, 16% das famílias paquistanesas e 12% das famílias negras sofreram desse flagelo, de acordo com um estudo da English House Survey.
«As disparidades sociais e de saúde subjacentes que impulsionam a desigualdade na saúde e na expectativa de vida estão presentes o tempo todo, e esse vírus apenas as expôs», disse Riayaz Patel, professor da University College of London, ao New York Times.
O equivalente britânico ao Instituto Nacional de Estatística recolheu os dados de mortalidade registados entre 2 de março e 17 de abril, cruzando-os com os censos de 2011, pois a etnia não é registada no momento do óbito.