Os títulos sobre a mais recente aventura de Judi Dench não poupam elogios à atriz. «Judi Dench faz história» é, porventura, o mais repetido. Desta vez, os aplausos chegaram-lhe não por um papel interpretado de forma exímia, mas antes por se ter tornado na mais velha ‘cover girl’ de sempre a figurar na capa da Vogue. Aos 85 anos, Dench foi a escolhida para protagonizar a edição britânica de junho da revista, a mais conceituada publicação de moda do mundo, e que foi colocada em banca já durante o mês de maio.
As fotografias foram tiradas em casa da atriz, no condado do Surrey, pouco antes de a pandemia obrigar ao confinamento no Reino Unido, no início março, pelo fotógrafo Nick Knight. Giles Hattersley foi o jornalista responsável por entrevistar a atriz, que apareceu na capa da revista pela primeira vez,. «A parte boa é que as pessoas ficaram mais conscientes da situação dos que estão completamente sozinhos. Se houver bondade a surgir disto, então já é uma vantagem», afirmava Judi Dench numa altura em que os efeitos da pandemia no Reino Unido ainda eram ténues – de momento, é já o país com mais mortes na Europa. Mas a conversa deixou também espaço para temas do quotidiano – com a atriz a falar da sua paixão por champanhe ou o facto de ter feito a sua primeira tatuagem aos 81 anos (gravou as palavras ‘Carpe Diem’ no pulso) – e sobre o futuro. Um futuro no qual a atriz apenas se vê no papel de trabalhadora: não pensa em reformar-se. Aliás, a palavra reforma é proibida na sua casa, diz ao entrevistador.
Eduard Enninful, diretor da Vogue no Reino Unido, referiu-se a Dench como um «tesouro nacional» nas redes sociais. «Nem consigo dizer-vos como estou feliz por ver Judi Dench, uma rainha inquestionável do palco e do ecrã, em destaque na sua primeira capa da Vogue, aos 85 anos — o que faz dela a pessoa mais velha a fazê-lo na história da revista», acrescentou.
Judi Dench tem uma carreira de mais de seis décadas e já foi sete vezes nomeada aos Óscares – venceu o galardão de Melhor Atriz Secundária em 1999 com o filme A Paixão de Shakespeare (de John Madden). Venceu ainda seis BAFTA, seis prémios Olivier, seis prémios Laurence – considerados os Óscares do teatro britânico – dois Screen Actors Guild Awards e um Tony. Em 1998, recebeu o título de Dame das mãos da Rainha Isabel II, concedido em reconhecimento dos seus serviços às artes do espetáculo. Nascida a 9 de dezembro de 1934 em Heworth, York, estreou-se em Liverpool em 1957, com uma peça de Shakespeare: Hamlet, em que interpretou o papel de Ofélia. Passou pelo teatro e televisão e foi no grande ecrã que se tornou numa atriz mundialmente reconhecida. Victoria & Abdul (2017), no qual interpreta a Rainha Vitória, os últimos filmes da saga James Bond – nos quais, entre 1995 e 2012, deu vida a M -, a Espia Vermelha (2018), Filomena (2013) ou o Exótico Hotel Marigold (2011) contam-se, a título de exemplo, entre as últimas grandes produções em que participou.
O título de mulher mais velha a ser convidada para a capa da Vogue é inequivocamente dela, mas antes de Dench houve outras mulheres a mostrar que a idade traz um charme inimitável. E que a beleza tem páginas que podem ser ocupadas pelas rugas. Jane Fonda, por exemplo, foi capa da mesma publicação na edição de maio do ano passado. Tinha então 81 anos. Já Meryl Streep foi, em janeiro de 2017, convidada para a última capa do ano da edição norte-americana e que celebrava o 125.º aniversário da publicação. Streep, então fotografada por Anne Leibovitz, tinha 68 anos. Antes, em 2013, a chancela holandesa da Vogue convidou Tina Turner para ser cover girl aos 73 anos. O fenómeno não é exclusivo da Vogue e outras publicações já convidaram mulheres mais velhas para as suas capas. Helen Mirren, por exemplo, foi capa da Allure em 2012, numa produção em que não foi usado photoshop.