O histórico diz-nos que, em todas as crises, o turismo foi sempre o setor económico a ser afetado em primeiro lugar, mas também o que recuperou mais rapidamente nas fases de retoma.
Desta vez, infelizmente, não vai ser assim. E isto porque, por um lado, a dimensão da crise atingiu níveis nunca experimentados à escala global e, por outro, dependemos demasiado de fatores externos que não controlamos, nomeadamente em matéria de transporte aéreo e restrições impostas à circulação de pessoas nos países de origem dos turistas.
É verdade que Portugal e o Algarve estão bem posicionados para iniciar a retoma, mas isso só irá acontecer, verdadeiramente, em nossa opinião, a partir da época turística de 2021, (Páscoa), designadamente no que se refere aos mercados externos e, mesmo assim, de forma lenta e gradual.
Até lá, a prioridade das prioridades vai para os mercados de proximidade, com realce para o mercado interno, tanto mais que nos meses de verão, os portugueses são, tradicionalmente, os turistas mais numerosos, também em número de dormidas, especialmente na maior e mais importante região turística do país – o Algarve.
No entanto, o fator crítico de sucesso para a recuperação turística reside no transporte aéreo internacional e da sua capacidade para se ajustar às novas realidades que, fatalmente, irão surgir nesta área, sobretudo se atendermos ao acentuar da disputa entre destinos turísticos concorrentes.
As novas tendências da procura, consubstanciadas no aumento substancial do Independent traveller nas procuras turísticas, particularmente no que se refere à captação e reconquista de rotas aéreas perdidas, vão determinar os sucessos e/ou insucessos do turismo no futuro próximo.
A adoção de manuais de boas práticas, quer de hotéis e empreendimentos turísticos, quer das ofertas turísticas como um todo, vai ser decisiva para induzir confiança nos canais de comercialização e distribuição de férias, assumindo-se, no atual contexto, como um dos fatores de diferenciação competitiva mais importantes junto dos consumidores de férias.
Porém, para que as empresas possam desempenhar o seu papel na recuperação económica do país, torna-se necessário que as medidas entretanto aprovadas pelo Governo sejam estimuladas, reforçadas e alargadas, quer em matéria de esforço financeiro, quer no que se refere a outros apoios, como moratórias fiscais, empréstimos, isenções fiscais, etc.
A possibilidade da atribuição de subvenções a fundo perdido às empresas, em troca da garantia da manutenção e criação adicional de emprego líquido, deve ser considerada, caso os impactos económicos negativos da pandemia se prolonguem para além de um prazo considerado razoável.
Na indústria do turismo, as realidades virtuais não jogam com a necessidade de os utilizadores estarem obrigados a deslocar-se ao local de consumo para poderem usufruir dos valores turísticos.
Por tudo isto, e como não há regra sem exceção, o turismo não vai ser, desta vez, o primeiro setor da nossa economia a recuperar. E é pena.
Elidérico Viegas Presidente da AHETA