O major Vasco Brazão, ex-diretor de investigação criminal da Polícia Judiciária Militar (PJM), admitiu, nas alegações finais, durante a fase de instrução do caso de Tancos, que quer ir a julgamento por «denegação de justiça» – como justificou o seu advogado Ricardo Sá Fernandes. Além disso, apontou o dedo ao ex-ministro da Defesa Nacional, Azeredo Lopes, alegando que este tinha conhecimento das investigações paralelas que decorriam ao roubo do armamento dos paióis. E foi ainda mais longe ao confessar que quem ordenou essas investigações foi Luís Vieira, diretor da PJM.
À saída do tribunal de Monsanto, em Lisboa, o advogado de Vasco Brazão explicou que o major pretende ir a tribunal porque «quer assumir as suas responsabilidades». «Achamos que se justifica a ida a julgamento por denegação de justiça. Existe matéria que o justifica», disse, segundo avançou a Lusa. Além disso, alegou que tanto Azeredo Lopes como Luís Vieira não estiveram à altura das suas responsabilidades. «A atuação da PJM foi feita sob a direção de Luís Vieira e, pelo menos na altura do achamento das armas, essa atuação foi do conhecimento de Azeredo Lopes.Um orientou as investigações e o outro teve conhecimento», garantiu a defesa de Vasco Brazão.
Apesar de ter criticado a atitude de Azeredo Lopes e Luís Vieira, o advogado teceu, no entanto, elogios à atitude do tenente-general Martins Pereira, chefe de gabinete do ministro na altura, que confessou ter recebido um «memorando» alusivo ao furto das armas. Para o advogado, foi a entrega desse mesmo documento que fez com que Azeredo Lopes e Luís Vieira fizessem alterações às respetivas versões do caso e adaptassem da melhor forma as suas posições.
«Teve a hombridade de se lembrar e trazer o papel e com isso fez a diferença neste processo e revelou um caráter que está à altura da sua carreira e da sua patente», reforçou Ricardo Sá Fernandes.
Vasco Brazão, recorde-se, está acusado de associação criminosa, tráfico e mediação de armas, falsificação ou contrafação de documentos, denegação de justiça e prevaricação e de favorecimento pessoal praticado por funcionário.
O juiz Carlos Alexandre vai anunciar no dia 26 de junho quem vai a julgamento no processo e quais os crimes pelos quais vão ser julgados. Nove dos 23 arguidos do caso estão acusados de planear e executar o furto do material militar dos paióis. E os restantes 14, entre eles Azeredo Lopes e dois elementos da PJM, estão acusados da encenação que esteve na base da recuperação do equipamento na região da Chamusca, em Santarém, em outubro de 2017 – mais de três meses depois de o furto ter sido dado a conhecer.