O embaixador José Cutileiro faleceu ontem, aos 85 anos, em Bruxelas, a capital belga, onde vivia há vários anos. Alentejano (nasceu em Évora em 1934), começou a sua carreira diplomática em 1974, em Londres, por convite do amigo Mário Soares, como adido cultural na embaixada. Na altura vivia na capital inglesa, onde era leitor na London School of Economics, tendo feito também em Londres o seu doutoramento, em 1968. Antes licenciou-se em Antropologia Social, mas também estudou Arquitetura e Medicina em Lisboa.
Na vida diplomática desempenhou e ocupou inúmeros cargos importantes, tendo sido, aliás, um dos negociadores de Portugal à então Comunidade Económica e Europeia (CEE), processo que culminou em 1986.
Da sua vasta carreira destacam-se igualmente o cargo de secretário-geral da União da Europa Ocidental (UEO), mas também a passagem pela equipa que coordenou a conferência de paz para a ex-Jugoslávia (1992). Passou também por Maputo (Moçambique) e Pretória (África do Sul).
Numa entrevista ao SOL, em novembro de 2017, José Cutileiro confessou mesmo que o posto onde mais gostou de estar foi na África do Sul, tendo conhecido Nelson Mandela, com quem esteve “pelo menos quatro ou cinco vezes”. Na altura considerou-o um “homem absolutamente extraordinário”.
Considerado pelos seus pares como um “homem do mundo”, foi ensaísta, escritor (publicou mais de uma dezena de obras) e cronista. Considerava o 25 de Abril como “certamente a maior alegria que teve”, conforme confidenciou ao SOL na referida entrevista.
Mal foi conhecida a sua morte (estava hospitalizado em Bruxelas) surgiram as reações, unânimes em destacar o seu papel na diplomacia portuguesa.
“Foi, além de um magnífico diplomata, um homem da cultura. Um homem muito inteligente, que escrevia muitíssimo bem, um grande ensaísta, um grande colunista, um grande comentarista, e depois também um grande cronista no sentido de contar a sua vida e a vida dos outros e analisar, de forma às vezes impiedosa, mas muito lúcida, muito inteligente, a vida nacional”, descreveu o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros acrescentou o seu prestígio e profissionalismo e o facto de a diplomacia nacional ficar “muito mais pobre” com a sua partida.