Neste ano atípico também o dia da criança será diferente do habitual. Desta vez, provavelmente será marcado por muito choro, birras, tristeza e desamparo. Tanto para os mais pequenos, como para os pais.
Isto porque, apesar de muitas escolas abrirem já na segunda-feira, será sobretudo no dia 1 de junho que a maioria das crianças e bebés irá regressar.
Depois de dois meses em casa com a família, habituados ao mimo e proximidade, só por si este regresso já seria muito difícil. O que fará se, associado a isto, encontrarem um espaço mais despido de afeto, de troca e partilha? Como irão gerir os educadores o seu colo quando todas as crianças o quiserem ocupar ao mesmo tempo? Qual será a prioridade: o consolo e a contenção ou evitar o contágio? De que forma o afastamento, a limpeza excessiva, as regras e o medo da doença irão surgir como a principal preocupação, roubando lugar à espontaneidade, ao toque, ao abraço ou aos beijinhos?
E se mesmo para os mais velhos a situação não é fácil, o que dizer dos bebés cujas mães acabaram a licença de maternidade e vão entrar para a escola pela primeira vez? Ou daqueles que, apesar de já terem entrado, são tão pequenos que não se lembram que alguma vez lá estiveram?
Considero de uma violência e de uma irresponsabilidade enormes obrigar, de certa forma, os pais a entregarem os seus bebés a algum sítio nestas condições. Muitas famílias sentem-se entre a espada e a parede. O subsídio acaba e têm de voltar ao trabalho, mesmo que saibam que não é o melhor deixar o seu bebé nas mãos de alguém que não só lhes é estranho, como poderá parecer até assustador à criança. Sabemos como é importante para o bebé a visão do rosto humano, como organizador psíquico e da relação. O que fará o contacto diário com rostos quase tapados? Ainda que haja colo, voz e toque – e imagino que a maioria dos educadores fará um esforço extra para acolher os seus bebés da melhor forma – parece-me de uma grande crueldade e violência, para o bebé, para os pais e mesmo para os educadores, toda esta situação.
Bem sei que a economia não pode continuar neste estado de letargia e que muitos pais necessitam de ser libertados para voltar ao trabalho. Mas há também todos aqueles que – com razão – não se sentem nada seguros de pôr os filhos na fila da frente nestas condições. Não faria sentido, pelo menos nos casos em que as mães estiveram em licença de maternidade e os seus bebés estão numa fase tão delicada do desenvolvimento, prolongar a licença? Achamos mesmo que é sensato entregar um bebé de cinco, seis ou sete meses, habituado a uma relação exclusiva com a mãe, a uma educadora de rosto quase tapado, que terá de ter uma série de cuidados e preocupações extra além de cuidar dos nossos bebés?
Com certeza haverá um conjunto complexo de fatores a analisar, mas de uma coisa eu tenho a certeza: eu jamais ficaria descansada em deixar um ser tão frágil, para quem a relação próxima é tudo, numa creche nestas condições.