O susto depois do aparecimento de um pequeno número de novos casos de transmissão local no fim de semana passado e o medo de uma segunda vaga de infeções em Wuhan, primeiro epicentro da pandemia do coronavírus, levou as autoridades a iniciarem esta semana um processo para testar toda a população da cidade chinesa de 11 milhões de habitantes – pelo menos aqueles que ainda não tinham realizado o teste.
Foi ordenado às autoridades de vários distritos de Wuhan para começarem a testar grupos-chave de residentes que ainda não tinham sido testados – é essa a prioridade – e para completar esse processo em dez dias. Os métodos aparentam variar nos diferentes locais, informa o Guardian, e tem havido alguma confusão sobre o prazo do processo e quais os requisitos para se ser testado. Mas o objetivo é traçar um quadro e registar um número claro de casos assintomáticos com covid-19, enquanto os estabelecimentos comerciais e as escolas reabrem.
Além daqueles que ainda não realizaram o teste, também será dada a prioridade a pessoas que vivem em áreas densamente populosas, nos locais onde os imobiliários são mais velhos e onde houve casos anteriores de coronavírus, segundo o Governo de Wuhan, citado pela agência noticiosa chinesa Xinhua.
Só num bloco residencial, foram testadas mais de 2 mil pessoas na terça-feira e o processo só foi interrompido pela escassez de rótulos e reagentes, relataram os profissionais de saúde citados pelo Guardian, complicando os esforços para testar todos os residentes até às 20h locais. Já no distrito de Qiaokou foram testadas centenas de pessoas desde quarta-feira, relatam as autoridades – outros distritos só conseguiram iniciar o processo na quinta-feira.
Imagens publicadas na internet e nas redes sociais, como na Weibo, mostram longas filas de residentes à espera de serem testados nas tendas montadas temporariamente para o efeito. «Por favor vão para casa e esperem por notícias. Vamos informar-vos o mais rapidamente possível quando tivermos resultados e depois podem voltar», disse um voluntário citado pelo diário britânico.
Alguns especialistas dizem que esta testagem em massa em tão pouco tempo não tem precedentes e demonstra o nível de preocupação das autoridades. Wuhan tem detetado alguns casos assintomáticos nos últimos dias e embora estes pacientes estejam a ser tratados em isolamento, a comunidade da cidade está preocupada, diz a Xinhua.
Wang Peiyu, da Escola de Saúde Pública da Universidade de Pequim, disse ao diário Global Times, de Pequim, que a testagem em massa da população de Wuhan era importante para se ter uma estimativa da proporção da população infetada, especialmente no caso dos portadores assintomáticos do vírus, para se prevenir uma possível segunda vaga de infeções.
«Ainda há muito que não sabemos sobre as infeções assintomáticas e é possível que esses portadores silenciosos infetem um largo número de comunidades», sublinhou ao diário chinês.
Wuhan realizou 1,79 milhões de testes entre 1 de abril e 13 de maio, segundo cálculos da agência britânica Reuters, baseados nos balanços diários fornecidos pela comissão de saúde de Wuhan. Ao todo, desde o início da pandemia, as autoridades dizem ter testado mais de 3 milhões de pessoas. Foi nesta cidade chinesa que o vírus foi detetado pela primeira vez, em dezembro, e onde o seu impacto foi mais letal na China, levando à morte de 3869 pessoas.