Take off é o nome que se dá ao movimento do surfista quando se põe em pé em cima da prancha. Tem de ser muito rápido e natural, a passagem de uma posição horizontal marcada pelo esforço da remada, para uma vertical, muito mais técnica, de percorrer as melhores linhas na parede da onda. Falhar o take off significa perder a onda.
O take off serve de analogia para a forma como iremos enfrentar o desafio económico que aí vem. Temos de ser rápidos na adaptação a uma nova realidade, fazer um bom take off, arrancar e encarar com naturalidade o teletrabalho ou os jantares à distância com amigos e familiares. É diferente, mas tem de ser pior? Não terá vantagens? Porque é que uma reunião virtual é, na maior parte dos casos, menos importante, pelo menos não tão digna, como uma presencial? Talvez seja só uma atitude. Mas se for, também faz sentido mudar.
Estamos perante um grande desafio a vários níveis. Quando assim é, não faz sentido deixar de fora qualquer contributo potencialmente válido, antes potenciar a sinergia de diferentes competências. Neste contexto torna-se ainda mais importante, pois ninguém tem certezas e muito menos experiência sobre como lidar com esta nova realidade.
Vamos ter de ser criativos para nos conseguirmos adaptar. Considerando esta necessidade, entendo importante destacar que criatividade é uma competência, muito mais do que uma característica ou condição. Tal como todas as outras competências, a criatividade pode ser estimulada. É natural que quem exerce profissões que impliquem a utilização corrente da criatividade a tenha mais desenvolvida. Quando há uma atividade em que uma das funções é precisamente a de ‘criativo’, chamar estas pessoas para pensar em novas soluções, não necessariamente limitadas ao seu espetro de atuação profissional, é um risco que vale a pena correr. Esta ideia conflui com uma outra, já mais antiga, do desejo das agências de comunicação reforçarem o seu papel de consultores de negócio, em vez de manterem uma posição menos estratégica, ainda que de grande visibilidade e importância.
Já escrevi sobre o movimento que as consultoras têm vindo a fazer ao criarem unidades de negócio, ou integrarem, agências de comunicação – há vários modelos. Independentemente do modelo adotado, todas as consultoras têm hoje perfis mais criativos nas suas estruturas, que podem dar um contributo importante para pensar novos caminhos e inventar soluções nunca antes testadas. E é seguro antecipar que as consultoras terão um papel relevante na recomendação de estratégias para lidar com a nova realidade.
É tão interessante formar um criativo para fazer auditoria ou compreender um balancete, como ensinar Photoshop a um contabilista. Mas, da mesma forma que o raciocínio de um financeiro pode ser um grande contributo numa sessão de brainstorm, será que não há espaço e necessidade de criativos noutros fóruns? Reuniões estratégicas, em que se pensam novas oportunidades de negócio? Desenvolvimento de produtos e serviços?
Certamente precisamos de ter perspetivas que ajudem a ver a realidade através de outra lente. Esta é uma das principais missões do criativo quando, todos os dias, se senta para trabalhar.