Foi em grupos rotativos a cada 30 minutos, e com uma pergunta a dominar o silêncio – «E se tivéssemos ficado sem cultura? – que se fez a vigília Cultura e Artes, que, na passada quinta-feira, decorreu em quinze cidades portuguesas. Em Lisboa, os artistas manifestaram-se em frente à Assembleia da República, criticando a forma de acesso à linha de emergência lançada – que, criticam, mais se assemelha a um concurso – e ainda os montantes disponibilizados para os trabalhadores a recibo verde.
Entre as reivindicações, os artistas pediam «a reformulação da Lei do Trabalho, uma política cultural transparente, um verdadeiro diálogo entre o setor e o Ministério da Cultura, o fim dos recibos verdes, um verdadeiro fundo de emergência, que não seja atribuído através de concursos e que atinja de facto todos os profissionais que ficaram sem trabalho nos últimos meses», disse ao jornal i Anaísa Raquel, fundadora da Ação pela Cultura 2020.
Depois da vigília e das crescentes críticas do setor, António Costa anunciou o lançamento de uma linha de financiamento de 30 milhões de euros para ser utilizada pelas autarquias. Trata-se de um «programa de financiamento de 30 milhões de euros aos municípios para poderem organizar um conjunto de atividades que permitam a um dos setores mais duramente atingidos por esta crise [provocada pela pandemia da covid-19] encontrar um espaço de reanimação», disse o primeiro-ministro. O valor será entregue às autarquias uma vez que «os municípios são dos maiores investidores de cultura no país», considerou Costa. «Neste verão, não é possível realizar festivais, mas é possível realizar em segurança espetáculos de música, por exemplo, quer ao ar livre quer em espaço coberto», acrescentou.
Segundo as conclusões de um inquérito feito pelo Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, Audiovisual e Músicos (Cena-STE), divulgado em abril, 98% dos trabalhadores de espetáculos viram trabalhos cancelados durante o estado de emergência.