Valentina: em teu nome, a proteção de todas as Valentinas!

Pequena Valentina, ficarás para sempre cravada na minha alma. Só espero que nesta minha jornada, para fazer do mundo um sítio melhor, para outras crianças como tu, não te desiludir. E desculpa-me!

Começo este artigo por vos perguntar, o que é a justiça? É assim um conceito tão abstrato? Tão difuso, que mais uma criança tenha que ter gritado por alguém que não apareceu? Que uma criança de apenas nove anos tenha deambulado pelas ruas um ano antes deste crime, fugida da casa de um progenitor, sem que isso fizesse soar todas as campainhas? Que mais uma criança, tenha sido torturada em frente aos irmãos, com água a ferver e depois espancada e deixada à sua mercê, durante 13 horas? Que mais uma criança, tenha sido encontrada sem vida, num eucaliptal, despejada como lixo? Mais importante ainda, é esta criança considerada um ser humano na nossa sociedade? Que todos os mecanismos, meios, tribunais, proteção de menores e envolvidos, falharam, já sabemos, mas qual é o valor da vida de uma criança portuguesa? Segundo o Estado, atualmente, vale zero. Isto porque ainda não fez entrar em vigor, o projeto de lei 361/XVI que lhe dá o estatuto de vítima, perante um agressor, um assassino, um psicopata! É um projeto que já devia estar aprovado, muito antes da pequena Valentina ser chacinada desta forma, tão aterradora. É um projeto de lei que já devia ter sido aprovado antes da pequena Lara ter sido também morta às mãos de um psicopata, também este uma espécie sem nome, um progenitor de espécie incógnita. Quem sabe com este projeto aprovado, estariam ambas salvas e seguras!

No entanto, continuamos a assistir à pura atrocidade e este caso que me atingiu profundamente enquanto mãe, ativista e mulher, veio gritar todos os bastas! Acredito que todas as vítimas de violência doméstica, possuem uma janela. A chamada janela da sorte. É essa janela que vai ter de deixar de existir. Não são os agressores que vão continuar a criar momentos ou janelas, na vida das nossas crianças que definem a sua existência! Mas sim leis! Leis que necessitam da aprovação e do bom senso comum de todos os políticos e cidadãos! É altura de tomar escolhas, de deixar de negligenciar até à morte as nossas crianças! Elas não são um ato de sacrifício! Nestes últimos tempos, a única real mudança, não tem vindo dos nossos governantes mas na coragem das vítimas, em gritarem mais alto, em darem a cara, em partilharem as suas histórias!

Agora e mais que nunca espero que continuem a lutar ao meu lado! Pequena Valentina, ficarás para sempre cravada na minha alma, só espero que nesta minha jornada para fazer do mundo um sítio melhor para outras crianças como tu, não te desiludir. E desculpa-me! Desculpa! Falhámos-te tremendamente! Eu sei, que falhei!