A pessoa que eu era quando começou o isolamento já não existe. A pessoa que eu sou agora é outra. Ficar confinada às quatro paredes da minha casa levou-me a olhar menos para o exterior e mais para dentro de mim. Descobri um Eu que estava adormecido. Aceitei desafios inesperados e aventurei-me por caminhos excecionais. Agora sou mais paciente, menos vaidosa, mais observadora, menos rigorosa, mais criativa, menos apreensiva, melhor ouvinte, menos apressada, mais introspetiva, menos gastadora, mais grata…
Mas continuo a ser alegre e divertida. A quarentena não abalou o meu espírito otimista. Continuo a sorrir com naturalidade, a gostar de ver o brilho nos olhos dos outros e a vibrar com as vitórias, minhas e dos outros. Continuo a ter esperança, a acreditar no amor, a aceitar a mudança, a valorizar as pessoas, a perdoar, a desejar um abraço, a querer dar e a gostar de receber. Sou a mesma Inês de antes, mas numa versão melhorada.
Como será quando o confinamento acabar?
Nada será exatamente igual, a começar por mim. De uma coisa tenho a certeza: escolhi para mim a mãe certa e o pai certo. Agradeço-lhes por me terem dado a vida. E tenho também os irmãos certos para mim. Há lá felicidade maior que esta! Quero que saibam que estou aqui para o que precisarem, que gosto muito de vocês, que confio em vocês, que respeito as vossas escolhas, que vos aceito tal como são e que agradeço por fazerem parte da minha vida!
Imaginei o nosso reencontro tantas vezes. Dei voltas à cabeça para que fosse original e único. Mas acabei por dar-me conta que o mais importante é voltarmos a estar juntos. Mais uma aventura em família, como tantas outras. A cidade eleita foi Londres. Estaremos todos na casa do Diogo. Com a autorização do meu irmão, os adultos serão distribuídos pelos vários quartos e sala enquanto os primos vão finalmente ver concretizado o seu sonho. Dormirão os quatro numa tenda! O bom tempo e o grande jardim vão fazer as delícias dos mais pequenos da família. Cada um levará um saco cama, uma mochila, boa disposição e amor. Vai haver pouco sono e muita conversa.
Lá terei que ganhar coragem para andar de avião, não tendo outra opção. Os meios justificam o fim que é estarmos juntos de novo. Já sei que na noite anterior não vou dormir, mas não faz mal. Irei fazê-lo durante a viagem e, depois… Voilà! Quando acordar já estarei no destino. E tão cedo não pensarei no regresso, senão ainda fico por lá. O que mais anseio é que possamos formar um abraço gigante. Os seis. Ou não fosse este um número muito especial.