por Pedro Sinde
Aos bispos portugueses, filialmente,
A Eucaristia é o que há de mais sagrado no mundo. Ao dizê-lo assim, parece que estamos a dizer muito e, no entanto, não dizemos quase nada, porque se poderia passar a ideia errada de que haveria outras coisas comparáveis, ainda que menos sagradas. No entanto, nada há de comparável, porque na Eucaristia está Deus em Si mesmo, em Sua completa, integral, real presença. É esta a certeza dos católicos. Sim, o mundo, naquele sentido que lhe dava São João, dirá que isto é uma loucura, e nós sabemos que é uma loucura, sabemos que é a loucura do amor de Deus pelos homens e sabemos também, por outro lado, que a sabedoria de Deus parece loucura aos olhos dos homens. A Eucaristia não é, por isso, coisa pouca, nem, naturalmente, a forma consequente como a recebemos, pois nos gestos expressamos justamente toda a reverência que devemos ao Criador, a fonte do nosso ser; e se não somos hipócritas, os gestos devem ser a expressão coerente, natural, da nossa crença. O Anjo de Portugal deu-nos em Fátima este exemplo, justamente, ao reverenciar a Sagrada Eucaristia prostrando-se com o rosto no chão.
Por esta razão, a Igreja veio a definir, durante séculos, como a única forma possível de receber tão alto sacramento, aquela que melhor expressa a completa reverência do crente: receber a Comunhão na boca e de joelhos, porque a Eucaristia é uma dádiva que nenhum crente merece e que, apesar disso, o Senhor quer dar, por ela Se quer dar ou, como nos mostram objectivamente os milagres eucarísticos, por ela nos quer dar o Seu Sagrado Coração. Vale a pena, por não ser muito conhecido, referir, apenas a título de exemplo, um milagre eucarístico contemporâneo e aprovado pela Igreja; em 2013, em Legnica, na Polónia, durante a Santa Missa de Natal, numa hóstia que caíra ao chão inadvertidamente, ao fim de alguns dias, depois de colocada, como define a Igreja, em água para se dissolver, apareceram manchas de sangue e depois tecido biológico. Foram entregues amostras a dois laboratórios, com pedido de identificação e a conclusão de ambos autonomamente foi a de que se tratava de músculo cardíaco humano em estado de agonia…
Quando se fala em receber a Eucaristia na boca ou na mão, é bom termos em mente a realidade de que se trata e, por isso, a reverência que devemos ao mais alto dos sacramentos, aquele em que o Rei dos reis se faz o mais humilde, vulnerável e pobre de todos.
À Igreja, e só à Igreja, foi dada a missão de custodiar e distribuir o Santíssimo Sacramento e, sendo este um mandato divino, nenhuma autoridade secular tem poder sobre ele.
Nos anos setenta, a Igreja permitiu, depois de pressão e desobediência por parte de países muito protestantizados, que as Conferências Episcopais que o quisessem pudessem pedir um indulto, isto é, uma excepção, para a Eucaristia poder ser distribuída na mão. Assim, nos países em que este indulto foi concedido é possível distribuir a comunhão na mão, mas isto é uma excepção, pois a norma, quer dizer, a forma preferida da Igreja para a recepção da Eucaristia é na boca. Como pode espantar que os Srs. Bispos se escandalizem por os crentes virem pedir apenas aquilo que é a norma? Como podem colocar-se numa posição tal que não os queiram ouvir? Venham sentir o cheiro das ovelhas que balem o seu lamento, o Senhor disse que o bom pastor deixaria noventa e nove para salvar apenas uma que se perdesse, como não deixaria então as noventa e nove apenas para ouvir o lamento de uma? Ouçam-nos, não se coloquem numa posição que não nos pode senão fazer pensar naquele clericalismo que o Papa Francisco tanto tem procurado combater.
Como esperavam que não houvesse crentes que se escandalizassem ao ler aquele documento, divulgado pela Conferência Episcopal, em que a Direção Geral de Saúde (sic!) define quais os “Passos necessários para comungar”? É nesse documento que a DGS (sic!) definiu que a comunhão é recebida apenas na mão.
A Eucaristia foi dada aos fiéis por Cristo; a tarefa dos sacerdotes é torná-la disponível; não é sua posse. E se o crente quer receber a Eucaristia na forma que sabe que é aquela que a Igreja recomenda e mais ama, então, os sacerdotes, os bispos, devem procurar encontrar formas seguras de fazê-lo e não desistir imediatamente, como se fosse uma coisa menor; e menos ainda deveriam entregar assunto tão grave nas mãos da DGS…
O Cardeal Robert Sarah, prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, máxima autoridade vaticana nesta matéria, confrontado, recentemente, com a decisão da Conferência Episcopal Italiana de proibir a distribuição da comunhão na boca, respondeu de forma inequívoca (La Nuova Bussola Quotidiana, 2.5.2020): “Já existe uma regra na Igreja que tem de ser respeitada: os fiéis são livres de receber a Comunhão na boca ou na mão.” As conferências episcopais não deveriam respeitar as normas da Igreja? Em 2009, por causa da pandemia da gripe suína (gripe A, H1N1), a mesma Congregação foi questionada sobre a possibilidade de continuar a receber a Eucaristia na boca e a resposta foi esta: “Este Dicastério assinala que a sua Instrução Redemptoris Sacramentum (25 de março de 2004) claramente determina que ‘todo o fiel tem sempre direito a escolher se deseja receber a sagrada Comunhão na língua’ (n. 92)”.
Dir-se-ia que é um risco não razoável a distribuição da Eucaristia na boca, no entanto, mesmo esta questão é discutida entre virologistas! Por exemplo, a Conferência Episcopal Americana, fez-se aconselhar por uma equipa de dezasseis especialistas de várias áreas que confirmaram não haver mais risco na distribuição na boca do que na mão e, assim, nos Estados Unidos, a sua Conferência Episcopal decidiu que continua a ser o crente que escolhe como quer receber. O Professor Filippo Maria Boscia, Presidente da Associação de Médicos Católicos de Itália, vai mesmo mais longe, afirmando que a Comunhão na mão é mais perigosa; a Federação Internacional das Associações de Médicos Católicos (FIAMC) endossa rigorosamente as declarações do Prof. Boscia; assim também o Dr. Fabio Sansonna, com mais de cem artigos científicos publicados; e ainda assim os especialistas a que recorreu a Arquidiocese de Portland, Oregon, etc. Os Srs. Bispos poderiam seguir o parecer da Federação Internacional das Associações de Médicos Católicos, porque não o fizeram?
Sentimos, e cremos que é legítimo, que os Srs. Bispos deveriam ter defendido melhor a Sagrada Eucaristia, que deveriam preservar as normas que a Igreja, em sua sabedoria, definiu; sentimos que não querem ouvir todo o seu rebanho; sentimos que não deveriam ter entregado esta decisão, o ponto mais alto do Catolicismo, a uma entidade secular.
Jesus ensinou-nos que devemos dar a César apenas o que é de César e nunca a dar a César o que é de Deus e só de Deus é.