Portugal volta a ser notícia lá fora e os elogios ao país à beira-mar plantado multiplicam-se, pelo menos no mais recente artigo do The Telegraph. Esta não é a primeira vez que o jornal britânico elogia a resposta portuguesa à pandemia, que decidiu voltar a destacar que “Portugal é um país com muito que se orgulhar” e com o qual o Reino Unido precisa de aprender.
No artigo, intitulado “Clean hands and face masks: what the UK needs to learn quickly from Portugal” (“Mãos limpas e máscaras faciais: o que o Reino Unido precisa aprender rapidamente com Portugal”), o jornal começa por destacar que a gestão da crise financeira de 2008 e a mais recente gestão da crise pandémica marcou o país como uma “das sociedades mais coesas e resistentes da Europa” e acrescenta que este é o exemplo que o Reino Unido deveria seguir, nomeadamente no combate ao novo coronavírus, com críticas ao Governo de Boris Johnson.
“Voar para lá do Reino Unido é algo que Boris Johnson devia solicitar a alguém do seu gabinete para fazer rapidamente. Se a principal rua britânica quiser abrir novamente – e permanecer aberta -, é urgente ver como aeroportos, lojas, bares e restaurantes estão a emergir com sucesso do confinamento em Portugal”, começa por referir o artigo, que destaca que “as diferenças são gritantes”.
O jornal britânico compara as medidas tomadas no London Luton Airport, com as medidas tomadas no aeroporto de Lisboa. Criticam a falta de marcações no chão, mas também a falta de distanciamento social entre passageiros.
“Lá, a ênfase é menor nas regras e maior no entendimento. No aeroporto de Lisboa, por exemplo, é possível que uma família de quatro pessoas se mantenha independente e se sente numa fila de quatro lugares, porque os dois no meio não foram reservados. Onde famílias diferentes se podem reunir, [porque] as pessoas simplesmente sabem deixar uma ou duas cadeiras vazias entre elas”, destaca o artigo, que realça ainda que Portugal investiu “sabiamente” em desinfetantes para as mãos e máscaras faciais.
O jornal britânico destaca uma série de “comportamentos simples, mas intuitivos” adotados pelos portugueses e elogia o facto de as lojas, restaurantes ou pastelarias terem desinfetantes para as mãos na entrada, não permitindo que se entre nos espaços sem antes limpar as mãos. “Leva apenas um segundo, é refrescante e é a intervenção de saúde pública mais antiga e mais eficaz”, realça.
E é então que chegam os elogios a Portugal por ter adotado o uso de máscaras faciais, não apenas na rua, mas também dentro das empresas ou de espaços fechados, tanto por trabalhadores, como por clientes.
“Usar uma máscara pode parecer estranho, mas em cinco minutos parece natural. Num restaurante ou bar, entras a usar uma máscara, mas remove-la quando te sentas para comer ou beber. Se te levantares para ir à casa de banho, coloca-a novamente como uma cortesia para quem passar no caminho”, exemplificam, elogiando ainda o funcionamento dos supermercados portugueses.
“É com essas duas medidas simples – mas quase universalmente adotadas – que Portugal abriu a sua economia após um bloqueio antecipado e bem-sucedido no 1º de junho. Ainda vai demorar mais uma semana até que qualquer mudança na transmissão comece a se refletir nas taxas de infeção, mas os presságios e a lógica são bons. Como alternativa, possui testes disponíveis e um sistema localizado de rastreamento”, elogiam.
Contudo, o mesmo não acontece no Reino Unido, país que o The Telegraph considera estar “desperado” para retomar a economia”, mas que não consegue comunicar aquilo que são regras de boa higiene mais básicas.
“No entanto, no Reino Unido, o inverso é verdadeiro. O Governo está desesperadamente desesperado para retomar a economia, mas parece não ter conseguido comunicar o básico da boa higiene às pequenas empresas”, refere o texto.
O autor do artigo contrasta o exemplo com o facto de no seu bairro em Londres conhecer apenas duas lojas onde existe desinfetante à porta e uma onde os funcionários usam máscara.
“A Public Health England diz-nos que o vírus está em gotículas que emergem de nossas bocas e narizes. Advertem-nos a cobrir a cara se tossirmos ou espirrarmos para não espalhar para outras pessoas ou superfícies à nossa volta. Dizem-nos que devemos ficar a dois metros de alguém com quem estamos a conversar para impedir que a gotículas passem entre nós. E, no entanto, a mesma organização mantém ao longo das suas diretrizes para as empresas que os revestimentos faciais são apenas ‘marginalmente benéficos"’, exigindo o seu uso para médicos, enfermeiros, prestadores de cuidados, visitantes de hospitais e passageiros de comboio e autocarros”, critica.
“Para que qualquer campanha de comunicação funcione, ela deve conter uma lógica consistente ou pelo menos não se contradizer. Portugal manteve suas regras e as suas mensagens simples e lógicas – e está a funcionar. Deveríamos fazer o mesmo aqui antes que seja tarde demais. Fazer fila no verão é uma coisa. No inverno, será impossível”, remata o artigo.