Os proprietários de bares e discotecas admitem estar exaustos e sentem-se os parentes pobres do desconfinamento. O Governo não avança datas para a reabertura dos espaços de diversão noturna e, quando fala sobre o tema, deixa dúvidas. Esta quarta-feira, durante a conferência de divulgação do boletim diária no Ministério da Saúde, Mariana Vieira da Silva, ministra da Presidência, referiu que existe a possibilidade de abrir gradualmente espaços de convívio, «à medida que tenham orientações específicas para o seu funcionamento».
No entanto, frisou que «o desconfinamento também tem regras e que a ideia de que nos podemos todos relacionar normalmente sem garantir o distanciamento físico, estando em festas onde nem sequer conhecemos todas as pessoas que lá estão, é uma ideia errada que importa combater». E, por isso, «discotecas e espaços de dança ficarão encerrados, uma vez que é pouco possível pensar neles como espaços de distanciamento social», acrescentou Mariana Vieira da Silva.
Também esta semana, a juntar a estas declarações, António Costa tocou no tema da noite ao falar sobre o prolongamento do layoff simplificado até final de julho. O primeiro-ministro explicou que as empresas que permaneçam encerradas por determinação do Governo vão manter o regime de layoff simplificado e deu o exemplo das discotecas. «O que é que isso quer dizer? Quer dizer que então em agosto nós não vamos poder abrir?», questionou José Gouveia, da Associação de Discotecas de Lisboa e do grupo JNcQUOI.
Ao SOL, José Gouveia explicou que o Governo «tem sido muito ambíguo nas declarações» e que «há esperança de que venha a ser decretada em meados de junho a reabertura, mas também há receio que isso não aconteça». A acontecer, «será gradual, primeiro os bares, zonas com espaços ao ar livre e depois as discotecas com limitações», acrescentou.
Já os proprietários dos bares discordam da associação feita desde o início da pandemia pelo Governo ao colocar bares e discotecas no mesmo patamar. Andreia Meireles, uma das proprietárias do bar Bairrus Bodega, no Bairro Alto, e representante do Grupo de Bares e Comerciantes da Misericórdia, explicou esta semana ao jornal i que os bares têm mais facilidade em ter esplanadas e de se adaptar para garantir o cumprimento das regras de segurança. No caso dos bares do Bairro Alto, por exemplo, Andreia Meireles explicou que estes espaços «são quase todos arejados, com mais do que uma porta para a rua e com possibilidade de esplanada».
Neste momento, fruto da falta de resposta relativamente aos bares, há proprietários que estão a alterar o CAE de atividade dos bares, transformando-os em restaurantes ou petiscarias. E há ainda o caso das mercearias que estão a substituir os bares na venda de bebidas alcoólicas: «Há situações flagrantes espalhadas por Lisboa, e mais nos bairros históricos, que são as mercearias que, neste momento, estão a vender bebidas alcoólicas com esplanadas assim um bocadinho arranjadas à toa, sem licença de esplanada. Um bar é um sítio onde as pessoas bebem bebidas alcoólicas; então, uma mercearia que está a vender bebidas alcoólicas está a ser um bar, no fundo», denunciou Andreia Meireles.
Manifestação esta segunda Para esta segunda-feira, às 18h, está marcada mais uma manifestação junto à Assembleia da República para exigir uma data de abertura dos espaços de diversão noturna. Desta vez, o protesto está a ser organizado pelo grupo ‘Unidos pelo Futuro da Noite e do Espetáculo’ e, além dos proprietários dos bares e discotecas, vão estar também artistas como djs e bailarinos.