Vítor Serrão, teórico cultural e ensaísta, afirma na minha opinião muito bem, num artigo seu de um Público do fim-de-semana: As obras de arte ainda são vistas ‘como testemunho de História comum… social e ideologicamente comprometidas, dão sempre testemunho e suscitam debate… onde se exponham aos olhares de ontem de hoje e de amanhã… Neste diálogo estético e afectivo não pode haver lugar para a vandalização e a destruição’.
Não o poderia dizer melhor. De resto, está já dito.
Em relação aos jesuítas do tempo do Padre António Vieira (de que aqui falei ontem), a ignorância é ainda mais total do que com a petição para deitar abaixo o monumento aos ‘Descobridores’ ou a Torre de Belém. E, como já alguém disse, ao Mosteiro dos Jerónimos e tutti quanti… Nesta petição, está claramente errado o Século a que se refere. Seria o XXI. Mas o erro não será somente esse: deitar abaixo monumentos feitos em determinado contexto e para homenagear certas actividades louváveis na época, só explicará as teorias talibãs.
Leopoldo II da Bélgica poderá e deverá ter actuado com uma crueldade já imprópria no seu tempo. Mas W. Churchill pode ter sido imensamente racista; no entanto, todos os democratas lhe devem também muito. E a ironia de ser a extrema-direita (que ele assumidamente tanto detestava) a defender a sua estátua, e ser a esquerda (que ele apesar de tudo suportava, a com a qual chegou a colaborar na II Guerra) a atacá-la, é completa. De qualquer modo, parece-me sempre preferível não reescrever a História e respeitar as obras de arte que nos deixaram.
Quanto ao Padre António Vieira, como referi aqui ontem, parecem-me tão desfasados da realidade os activistas de esquerda (por muito extremistas e radicais que sejam), como a extrema-direita que defende a estátua. Ninguém saberá porque motivo terão sido então proibidos os jesuítas? Talvez os antepassados dos atacantes tenham sido mais racistas… foram com certeza. E os antepassados dos defensores da estártua? Talvez m ais normais…