É urgente cuidar da infância!

Cabe-nos a nós proteger a infância das crianças, pelo João, e pelos milhares iguais a ele…

Vou contar-vos duas histórias. A infância da Maria e a infância do João. Primeiro que tudo, o que é a infância? E segundo, não deveriam ter todas as crianças direito a uma infância, segura, digna e completa?

A Maria e o João andavam na mesma escola. A Maria era alegre e espontânea. Era filha de pais separados que ambos resolveram entre eles a sua guarda. A Maria era uma criança muito feliz. Não se sentia separada da sua mãe e do seu pai. Eles eram, na verdade, grandes amigos. Tinham uma relação de mútuo respeito e admiração, partilhavam memórias e vivências. A Maria vivia num misto de casas misturadas, um mundo que não devia ser tido como ideal, mas normal para uma criança, filha de pais separados. E dois pais, que respeitosamente sabiam que apesar de a sua relação não ter funcionado a dois, funcionava de forma vivaz a três, quatro, cinco ou a seis, contando com os animais de estimação, também eles, parte da família agora adaptada! Infelizmente, milhares de crianças vivem infâncias opostas, marcadas por este flagelo que é a violência doméstica. Essa é a história do João!

O João era tímido. Reservado. Por vezes aparecia com hematomas nas pernas e nos braços. Ao falar com a Maria, o João, dizia que era por ter caído ao brincar com os amigos em casa do pai. A Maria achava estranho. É que o João não tinha amigos na escola. A Maria era a sua única amiga. Sentia-se próxima do rapaz também filho de pais separados. Acreditava que os pais dele, eram iguais aos pais dela. Mas nunca foi mais além do que isso. O João também era filho de pais separados. A mãe era vítima de violência doméstica e já tinha apresentado queixa. No entanto, enquanto a investigação decorria, o pai tinha direito a ter visitas com o filho e o julgamento ainda não se tinha iniciado. A mãe informava que o pai batia no filho. No entanto, a queixa não foi valorizada e as visitas continuaram.

A mãe era perseguida em todo o lado. O João assistia às perseguições. Às queixas. Aos palavrões. O João assistiu a mãe a ser agredida. O João foi agredido. O avô do João foi atirado ao chão e pisado! E no meio destas infâncias que se cruzam, o João continuava a ter esperança que algo mudasse, desenhava ainda o sol, bem amarelo e as flores com cores bem garridas. Este foi o último desenho que o João ofereceu à Maria. A Maria ainda se lembra do último sorriso e dos olhos tristes da última vez que o João lhe estendeu a mão para lhe oferecer este desenho, como se dissesse: «Eu ainda estou aqui!». A infância do João acabou de forma trágica, e a de Maria será marcada de forma irreversível pela partida do amigo às mãos de alguém que para ela era impensável fazer mal a um filho, a sua referência, o seu super-herói, um pai!

Cabe-nos a nós proteger a infância das crianças, pelo João, e pelos milhares iguais a ele e também pela Maria e pelas (milhares) iguais a ela!