Aumento de casos de covid-19 em Lisboa e Vale do Tejo “não permite concluir que se está perante segunda vaga”

Os investigadores do Instituto Nacional Ricardo Jorge dizem que é difícil prever quando é que vai ocorrer uma segunda vaga mas que o vírus não deve desaparecer do país nas próximas semanas. 

Apesar do aumento do número diário de casos de covid-19 na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) nos últimos dias, os investigadores do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge afirmam que "a tendência e a magnitude" dos valores da curva epidémica não permitem concluir, "ou excluir", que se está perante uma segunda vaga de covid-19.

"Desde o primeiro caso de covid-19 notificado em Portugal, o país mantém-se em situação epidémica", contudo, na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) "a tendência e a magnitude dos valores da curva epidémica não nos permitem excluir – ou concluir inequivocamente – estar perante uma segunda fase de crescimento", explicam os investigadores numa nota enviada à agência Lusa.

"A evolução da situação atual em LVT e outras regiões do país depende da evolução do número de novos casos, das características desses novos casos e da qualidade e rapidez do seu controlo com diagnóstico, testagem e isolamento dos casos e seus contactos em poucas horas", afirmam ainda.

Os investigadores esclarecem ainda que não se deve verificar a extinção da epidemia no país nas próximas semanas devido ao valor da RT. "A manutenção de índices de transmissibilidade com valores acima de 1 a nível nacional (1,08 entre 17-21 de junho) e oscilando em torno deste valor em todas as regiões (1,13 na região Norte, 1,08 na região Centro, 1,05 na região LVT) sugere que muito provavelmente não se verificará a extinção da epidemia nas próximas semanas", pode ler-se na nota.

Os cientistas elogiaram ainda as medidas de confinamento impostas pelo Governo, depois de terem sido confirmados os primeiros casos de covid-19 no país, e afirmam que foi graças à rapidez das medidas implementas que foi possível controlar o surto no país e impedir um cenário igual ao de outros países, como Espanha e Itália, onde se registaram muito mais óbitos e casos de covid-19, no entanto, não deixam de sublinhar que o vírus continua a circular no país. "Não se chegou, contudo, a um momento de ausência ou ocorrência esporádica de novos casos de covid-19 por unidade de tempo, em nenhuma região do país", afirmam. 

Sobre se existe alguma previsão sobre quando poderá ocorrer a segunda onda epidémica no país, os cientistas referem que "não é possível prever exatamente" uma data, explicando que se trata de "um aumento apreciável do número de novos casos de magnitude e distribuição geográfica pelo menos idêntica ao que se verificou nos primeiros meses deste ano". "Não existe informação suficiente para concluir da gravidade ou transmissibilidade da infeção caso ocorra uma segunda onda epidémica", esclarecem. 

A probabilidade do surgimento de uma segunda vaga de covid-19 pode ser influenciada por vários fatores externos ou pela ocorrência de alterações genéticas do vírus que aumentem a sua capacidade de transmissão na população humana. Os investigadores do instituto afirmam ainda que não existem motivos para pensar "que as características deste ou de futuros aumentos na incidência de covid-19 serão mais agressivas" visto "não existir uma mutação do novo coronavírus conhecida" logo é preciso "ir avaliando o comportamento do vírus à medida da sua evolução".

Os investigadores concluem que "os critérios para a definição de uma segunda onda epidémica de covid-19 não são ainda consensuais no mundo, o que aumenta a complexidade da interpretação dos dados e indicadores epidemiológicos, acrescida pelos efeitos da intervenção humana na história natural da doença".