por Filipa Moreira da Cruz
Seja positivo, sorria. Mas não se esqueça de chorar de vez em quando, isso mostra que não é insensível. Liberte-se das pessoas tóxicas, mas não se afaste da família, mesmo que os mais podres sejam aqueles com quem partilha ADN. Faça o que gosta, mas enquanto não aparece o trabalho dos seus sonhos deixe-se ficar no atual porque sem dinheiro ninguém vive. Aprenda a dizer não, mas tenha um sim na ponta da língua. Pratique desporto, mas não seja escravo do seu corpo. Opte por alimentos saudáveis, mas evite ficar obcecado por tudo o que é ‘bio’. Mude de vida, mas sem dar nas vistas. Seja ousado, mas, acima de tudo, tenha medo. Muito medo.
Vivemos aterrorizados. O pânico controla as nossas vidas. Esta sociedade esquizofrénica e bipolar pensa ter a lição tão bem estudada que se recusa a pedir ajuda. Os problemas da mente não se resolvem no divã, escondem-se. Ou melhor, dissimulam-se nas fotografias publicadas nas redes sociais. E, às vezes, nem mesmo os mais atentos conseguem ver a mágoa por detrás do sorriso forçado. O psiquiatra só fica bem nos filmes de Hollywood. O importante é ter opinião sobre tudo, especialmente acerca do que não se sabe. Falar dos outros é a melhor desculpa para não falarmos de nós.
As mensagens não são descodificadas. Não há tempo. Hoje em dia é tudo rápido e com filtros. Fast food, fast job, fast love, fast life, fast death. Play it again? Game over. Queremos tudo aqui e agora. Somos escravos do tempo, mas esse grande senhor escapa-nos cada vez que ousamos desafiá-lo. Sentimo-nos frustrados quando as coisas não acontecem rapidamente. Ficamos desamparados perante o imprevisto porque não estamos programados para falhar. Desde a mais tenra idade, somos formatados para o sucesso. Só os mais fortes conseguem vencer as adversidades da vida, dizem-nos. Como se a sensibilidade fosse um bicho raro que transmite um vírus mortal. Quem não encaixa no molde é posto de lado porque não há espaço para a diferença nem margem para as dúvidas. Preocupamo-nos, sobretudo, com a imagem que projetamos nos outros. O ter sobrepõe-se ao ser. Sofremos em silêncio para não incomodar.
São as adversidades da vida que nos fazem crescer. O longo rio tranquilo é demasiado brando para ensinar-nos seja o que for. O melhor capitão de um barco não nasce num mar calmo. Não importa quantas vezes caímos nem quantos erros cometemos. Só os imbecis é que nunca se enganam. Mas e se não soubermos levantar-nos? E se repetirmos os mesmos erros vezes sem conta? Continuaremos a cair e pediremos ajuda para voltarmos a ficar de pé. Trataremos das feridas deixadas pela queda e passaremos a sentir orgulho nas cicatrizes que outrora permaneciam escondidas.
A empatia, a criatividade, a resiliência, o respeito e o perdão não passam de moda, são intemporais. A felicidade é efémera, mas os momentos felizes podem colecionar-se a vida inteira. Basta estar disponível e aceitar-se como um ser extraordinário. Perfeitamente imperfeito. Deveríamos ser capazes de criar um fio invisível que nos une a todos os que valem a pena, desenhar uma bolha protetora contra aqueles que devemos evitar e apagar com uma borracha gigante tudo o que nos faz sofrer. Mas se assim fosse, a vida não teria graça nenhuma, pois não?! Nem tudo é mau. Podemos criar mecanismos de defesa. Pôr-se a jeito no parapeito da janela e ver desfilar a pobreza de espírito é uma ótima maneira de evitar o confronto desnecessário. Sermos apenas espetadores da estupidez alheia requer treino, mas acreditem que vale a pena! Às vezes o silêncio é a única resposta possível.